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5 Necessidades Emocionais da Infância: Como Promover um Desenvolvimento Saudável

0 a 3 anos

A infância é uma fase fundamental para o desenvolvimento emocional de uma pessoa. De acordo com Jeffrey Young, criador da Terapia do Esquema, existem cinco necessidades emocionais básicas que, quando não atendidas adequadamente na infância, podem levar ao desenvolvimento de esquemas disfuncionais que afetam a vida adulta. Esses esquemas influenciam como compreendemos a nós mesmos e o mundo ao nosso redor.

A Terapia do Esquema1 é uma abordagem terapêutica integrativa e contemporânea,  que expande de forma expressiva os métodos tradicionais da terapia cognitivo-comportamental (YOUNG, KLOSKO E WEISHAAR, 2008).

Essa abordagem combina aspectos de diferentes vertentes teóricas, como a cognitivo-comportamental, teoria do apego, gestalt, relações objetais, construtivismo e psicanálise, formando um modelo clínico abrangente e coeso. Voltada especialmente para o tratamento de pacientes com transtornos psicológicos crônicos e persistentes — muitas vezes considerados de difícil manejo — essa terapia oferece uma alternativa eficaz e inovadora no campo da psicoterapia (YOUNG, KLOSKO E WEISHAAR, 2008).

Neste artigo, exploraremos as cinco necessidades emocionais propostas por Young e Klosko (2008), suas implicações, os impactos de sua privação e como o papel dos pais são fundamentais para promover um desenvolvimento emocional saudável.

O Que São as Necessidades Emocionais Básicas?2

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O conceito de necessidades fundamentais foi proposto por Abraham Maslow (1943a; 1943b apud SOARES et al., 2024), que elaborou a teoria da hierarquia de necessidades, organizadas em uma pirâmide que abrange desde demandas básicas, como alimentação, água e sono, até aspectos psicológicos, como autoestima e reconhecimento. Mais tarde, Bowlby (1988 apud SOARES et al., 2024), argumentou que os seres humanos desenvolvem vínculos de apego com seus cuidadores iniciais, sendo esses relacionamentos essenciais para a satisfação ou não das necessidades básicas.

A Terapia Esquema  fundamenta-se no princípio de que essas necessidades são universais e inegociáveis. Estudos apontam que a frustração persistente de necessidades emocionais centrais compromete o desenvolvimento infantil, gerando consequências imediatas e a longo prazo para o bem-estar físico e mental (SOARES et al., 2024).

Segundo Lockwood e Perris (2012 apud SOARES et al., 2024), as necessidades emocionais básicas, distinta dos desejos, possuem características específicas:

1) sua satisfação eleva o bem-estar, enquanto sua ausência o reduz;

2) contribuem diretamente para o bem-estar, sem depender de outras necessidades;

3) manifestam-se universalmente;

Como vimos, as necessidades emocionais básicas são condições universais necessárias para o desenvolvimento de uma personalidade saudável. Elas representam as demandas fundamentais que uma criança precisa ter atendidas para crescer com segurança emocional, autoestima e capacidade de formar relacionamentos saudáveis.

Segundo Young et al. (2008, p.24) essas cinco necessidades emocionais são:

  1. Vínculos seguros com outros indivíduos (inclui segurança, estabilidade, cuidado e aceitação).
  2. Autonomia, competência e senso de identidade.
  3. Liberdade de expressão, necessidades e emoções válidas.
  4. Espontaneidade e lazer.
  5. Limites realistas e autocontrole.

A satisfação dessas necessidades emocionais começa na infância, com os cuidadores primários desempenhando o papel fundamental.

No entanto, à medida que a criança cresce, outras influências — como amigos, escola, grupos comunitários e a cultura ao seu redor — passam a desempenhar um papel cada vez mais importante em seu desenvolvimento (YOUNG et al., 2008). 

1. Vínculos Seguros

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A primeira necessidade emocional, segundo Young e Klosko (2008), é a criação de vínculos seguros, principalmente com os cuidadores, que inclui segurança, estabilidade, cuidado e aceitação. Essa necessidade está enraizada na teoria do apego de John Bowlby, que destaca a importância de um cuidador emocionalmente disponível para o desenvolvimento saudável.

Importância

Um vínculo seguro proporciona à criança a certeza de que ela é amada e protegida, mesmo em momentos de vulnerabilidade. Cuidadores que oferecem afeto consistente e respondem às necessidades emocionais da criança criam um ambiente onde ela desenvolve confiança em si mesma e nos outros. Por exemplo, uma criança que é acolhida quando chora aprende que suas emoções são compreendidas e que pode contar com apoio do outro.

Mas as crianças podem não desenvolver um vínculo seguro se os pais estiverem frequentemente ausentes, negligenciarem suas necessidades, aparecerem e desaparecerem de suas vidas ou agirem de forma abusiva.

A ausência ou a inconsistência na parentalidade podem impedir que a criança adquira, por meio da experiência, as habilidades necessárias para regular suas emoções em situações desafiadoras. Quando os pais estão emocionalmente ou fisicamente ausentes, a criança pode não ter um exemplo a seguir ou alguém para confortá-la em momentos de angústia, o que pode levá-la a buscar formas arriscadas ou prejudiciais de se acalmar.

Já em casos de pais inconsistentes, a criança pode se sentir confusa sobre como reagir adequadamente, desenvolvendo estratégias de enfrentamento baseadas na gestão da ansiedade gerada por essa imprevisibilidade, muitas vezes guiadas pelo medo. Por exemplo, uma criança pode se tornar reservada e silenciosa na presença dos pais, incapaz de prever se eles reagirão com alegria ou irritação.

2. Autonomia, Competência e Senso de Identidade

A segunda necessidade emocional é a autonomia, competência e senso de identidade. Essa necessidade refere-se à capacidade da criança de desenvolver independência, confiança em suas habilidades e uma compreensão clara de quem ela é.

Importância

A autonomia é construída quando a criança tem liberdade para experimentar e aprender com seus erros. Cuidadores que oferecem orientação sem superproteção permitem que a criança desenvolva competência, ou seja, a crença de que é capaz de enfrentar desafios. O senso de identidade é fortalecido quando a criança é incentivada a expressar sua personalidade única.

Cuidadores controladores ou desdenhosos podem levar ao desenvolvimento de esquemas como dependência, incompetência ou fracasso. Esses esquemas geram crenças como “não sou capaz” ou “sempre vou falhar”. Adultos com esses esquemas evitam responsabilidades ou dependem excessivamente de outros.

3. Liberdade de Expressão, Necessidades e Emoções Válidas

A terceira necessidade emocional é a liberdade de expressar necessidades, emoções e opiniões sem medo de punição ou rejeição. Essa necessidade envolve a validação dos sentimentos da criança, permitindo que ela se sinta ouvida e compreendida.

Importância

A validação emocional ensina que os sentimentos da criança são legítimos e que ela tem o direito de expressá-los. Isso é crucial para o desenvolvimento de habilidades de comunicação e autoestima. Quando a criança é encorajada a pedir o que precisa, ela aprende a valorizar sua voz.

A repressão das emoções ou a invalidação das necessidades emocionais pode levar a esquemas como subjugação ou inibição emocional. Pessoas com esses esquemas priorizam as necessidades dos outros, suprimem seus sentimentos ou têm dificuldade em se posicionar, o que pode resultar em ressentimento ou transtornos.

Comunicar-se livremente sem receio de críticas é essencial. Uma criança que não tem essa liberdade pode sofrer impactos negativos ao manifestar suas emoções, como ser repreendida por sentir tristeza ou orientada a esconder ansiedade e preocupações.

Por exemplo, em casos de bullying, pode ser instruída a “se defender” sem apoio emocional. Sentimentos comuns podem ser vistos como “fraqueza” ou sinal de inadequação. Da mesma forma, uma criança que enfrenta hostilidade ao demonstrar alegria pode aprender a reprimir emoções positivas no ambiente familiar. Essas vivências podem deixá-la despreparada para gerenciar emoções complexas fora de casa. Se suas reações não forem socialmente aceitas, como não conseguir compartilhar felicidade com outras crianças, isso pode resultar em rejeição e dificuldades nas relações interpessoais.

Estratégias de enfrentamento que persistem na vida adulta podem incluir suprimir emoções, recorrer a substâncias para lidar com sentimentos ou evitar situações e relacionamentos que despertem emoções intensas.

4. Espontaneidade e Lazer

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A quarta necessidade emocional é a espontaneidade e o lazer, que envolvem a capacidade de brincar, se divertir e agir de forma natural sem medo de críticas ou expectativas rígidas. Essa necessidade é essencial para o bem-estar emocional e a criatividade.

Importância

Desde tenra idade, as crianças se conectam e interagem com o ambiente ao seu redor. Por meio das brincadeiras, elas constroem e descobrem um universo que conseguem controlar, superando temores enquanto experimentam papéis de adultos, muitas vezes ao lado de outras crianças ou responsáveis. Ao explorarem esse mundo, o brincar favorece o desenvolvimento de habilidades que promovem autoconfiança e a resiliência necessárias para lidar com os desafios do futuro.

Brincar e se engajar em atividades prazerosas permitem que a criança desenvolva imaginação e aprenda a lidar com frustrações de forma saudável. Cuidadores que incentivam o lazer sem impor pressões excessivas ajudam a criança a equilibrar responsabilidade e diversão, promovendo uma relação positiva com o prazer.

Um exemplo de quando a necessidade de aprender por meio do brincar não é suprida ocorre quando uma criança precisa amadurecer rapidamente, como ao assumir responsabilidades de cuidar de si mesma, de irmãos ou dos pais. Outro caso pode ser quando o ato de brincar é considerado negativo, resultando em punições dentro do ambiente familiar. Além disso, pode haver uma pressão intensa para o sucesso escolar, onde o desempenho acadêmico é priorizado acima do brincar e da socialização. Embora essas crianças possam parecer mais maduras e receber elogios por isso, internamente elas podem se sentir desconectadas e com dificuldade de se relacionar com outras da mesma idade. Isso pode contribuir para padrões como o isolamento social.

5. Limites Realistas e Autocontrole

A quinta necessidade emocional é a presença de limites realistas e autocontrole. Essa necessidade envolve aprender a respeitar regras, assumir responsabilidades e regular impulsos, o que é essencial para a convivência social e o desenvolvimento de uma autoimagem equilibrada.

Importância

Limites claros e consistentes ensinam à criança que suas ações têm consequências e que ela deve considerar os outros. Cuidadores que estabelecem regras justas, sem serem punitivos, ajudam a criança a desenvolver autocontrole e a entender que limites são uma forma de cuidado, não de rejeição.

No processo de formação de esquemas, algumas crianças podem crescer sem restrições, tendo liberdade para agir como desejam devido à negligência de seus cuidadores. Em contrapartida, outras enfrentam pais extremamente rígidos, o que pode gerar temor diante de possíveis erros.

Crianças criadas sem limites claros, com permissão para fazer o que quiserem desde cedo, podem se sentir emocionalmente desestabilizadas ao enfrentar contextos, como a escola, onde há regras definidas. Elas podem se perceber diferentes dos colegas, pois não desenvolveram habilidades para controlar impulsos ou distinguir comportamentos potencialmente prejudiciais. Com o tempo, isso pode evoluir para atitudes de risco ou dificuldades em alcançar objetivos traçados, resultando em esquemas como falta de autocontrole, além de sentimentos de inadequação ou isolamento social.

Por outro lado, indivíduos criados em ambientes com regras estritas podem internalizar que, para receber atenção ou aprovação, precisam “se comportar bem” ou seguir padrões específicos. Por exemplo, pais exigentes podem esperar um comportamento impecável em casa. Dependendo da personalidade da criança, isso pode levar ao desenvolvimento de crenças rígidas, como o esquema de padrões inflexíveis. Para aqueles cujo temperamento dificulta seguir tais exigências, pode surgir a percepção de serem diferentes ou “insuficientes” no ambiente familiar, o que pode se traduzir em esquemas de inadequação ou fracasso.

Conclusão

As cinco necessidades emocionais básicas propostas por Jeffrey Young — vínculos seguros, autonomia, liberdade de expressão, espontaneidade e lazer, e limites realistas — são fundamentais para o desenvolvimento saudável na infância. Pais e cuidadores desempenham um papel central ao suprir essas necessidades emocionais, criando um ambiente de afeto, apoio e orientação que promove segurança emocional, autoestima e habilidades sociais.

Quando atendidas adequadamente, essas necessidades pavimentam o caminho para que as crianças se tornem adultos emocionalmente equilibrados e resilientes. No entanto, sua privação pode levar a padrões disfuncionais que impactam a saúde mental e as relações interpessoais na vida adulta. Portanto, o envolvimento consciente e consistente de pais e cuidadores é crucial para nutrir o bem-estar emocional das crianças, contribuindo para a formação de uma sociedade mais empática e funcional.

Se quiser saber mais sobre a importância da presença dos pais na vida dos filhos, clique aqui e leia o artigo “Pais Presentes, Filhos Seguros: 10 Orientações Para Construir uma Conexão Forte nos Primeiros Anos”

Referências

  1. YOUNG, Jeffrey E.; KLOSKO, Janet S.; WEISHAAR, Marjorie E. Terapia do esquema: guia de técnicas cognitivo-comportamentais inovadoras. Porto Alegre: Artmed, 2008. ↩︎
  2. SOARES, Emyli de Sousa; LOPES, Renata Ferrarez Fernandes; LOPES, Ederaldo José. Revisão sistemática dos estudos de validação do Questionário de Esquemas Positivos de Young (YPSQ). Revista Brasileira de Terapias Cognitivas, 2024. DOI: https://dx.doi.org/10.5935/1808-5687.20240394. ↩︎

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