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Alfabetização e Dislexia: Como Superar as Dificuldades de Leitura e Escrita nas Crianças

6 e 7 anos (Alfabetização)

Alfabetização e Dislexia são temas profundamente interligados, pois a dificuldade na aquisição da leitura e da escrita é um potente sinal desse transtorno de aprendizagem. A alfabetização é um processo essencial para o desenvolvimento cognitivo e social das crianças, mas, para aquelas com dislexia, esse caminho pode ser mais desafiador e exigir abordagens diferenciadas.

Identificar e intervir precocemente nas dificuldades de leitura e escrita é fundamental para minimizar impactos negativos no desempenho escolar e na autoestima da criança. A falta de diagnóstico e de suporte adequado pode levar à frustração, desmotivação e até mesmo a dificuldades emocionais, tornando o processo de aprendizado ainda mais complexo.

Neste artigo, vamos explorar o que é a dislexia, seus impactos no processo de alfabetização e estratégias eficazes para auxiliar crianças que enfrentam essa dificuldade. Se você é pai, mãe, professor ou profissional da educação, entender melhor esse tema pode fazer toda a diferença na vida de uma criança que precisa de suporte para aprender a ler e escrever com mais autonomia e confiança

1. O que é Dislexia?

dislexia

    Segundo a Associação Internacional de Dislexia (2002), a dislexia do desenvolvimento é reconhecida como um transtorno específico de aprendizagem com base neurobiológica, manifestando-se por dificuldades na identificação precisa e/ou fluente de palavras, na decodificação e na soletração. Geralmente, esses desafios decorrem de um déficit no componente fonológico da linguagem e aparecem de maneira inesperada considerando a idade e outras capacidades cognitivas. Consequências secundárias podem englobar problemas na compreensão de textos e uma experiência de leitura limitada, o que pode obstruir o avanço do vocabulário e do conhecimento em geral.

    A dislexia pode se manifestar de formas variadas, como a inversão ou troca de letras, dificuldades na associação entre sons e grafemas e problemas na fluência da leitura. Esses sintomas podem variar em intensidade de uma criança para outra, exigindo um diagnóstico preciso e intervenções pedagógicas individualizadas.

    De acordo com o DSM-5-TR (APA, 2023), estima-se que entre 5% e 10% da população mundial apresente transtornos específicos da aprendizagem, um transtorno de origem neurobiológica, caracterizado por sua persistência e impacto na aprendizagem, resultante de déficits em diversos componentes cognitivos.

    Segundo o Ministério da Saúde, calcula-se que mais de 7,8 milhões de indivíduos no Brasil apresentem dislexia, o que representa aproximadamente 4% da população do país.

    Os antecedentes familiares constituem um dos principais fatores de risco, com estudos indicando que entre 23% e 65% das crianças com dislexia têm pais que também apresentam essa condição (1,2). A probabilidade de que irmãos de indivíduos afetados sejam também diagnosticados é cerca de 40%, enquanto que para os pais essa taxa varia de 27% a 49% (CAPELLINI, 2007).

    2. O Impacto da Dislexia na Alfabetização

    A dislexia é um transtorno de aprendizagem que impacta diretamente a aquisição da leitura e da escrita, tornando o processo de alfabetização mais desafiador para as crianças que apresentam essa condição. Segundo o Instituto ABCD, a dislexia tem origem neurobiológica e afeta principalmente a consciência fonológica – habilidade essencial para associar os sons às letras e formar palavras. Isso significa que, mesmo em um ambiente alfabetizador adequado, a criança pode ter dificuldades para decodificar palavras, comprometer a fluência na leitura e apresentar erros frequentes na escrita.

    3. Como a Dislexia Afeta o Aprendizado da Leitura e da Escrita

    A alfabetização depende da capacidade de reconhecer padrões linguísticos, associar fonemas (sons) aos grafemas (letras) e compreender o significado das palavras dentro de um contexto. No entanto, crianças com dislexia podem ter dificuldades nesse processo, pois o cérebro  não processa os sons da linguagem da mesma forma que crianças sem o transtorno. De acordo com a International Dyslexia Association (www.dyslexiaida.org), a dislexia não está relacionada à inteligência, mas sim a um déficit específico no processamento da linguagem escrita.

    Essa dificuldade afeta a precisão e a velocidade da leitura, levando a um esforço maior para reconhecer palavras e compreender textos. Como resultado, a criança pode evitar a leitura, demonstrar desinteresse pelas atividades escolares e apresentar um ritmo de aprendizado mais lento em comparação aos colegas.

    Dificuldades Comuns Enfrentadas por Crianças Disléxicas

    Entre os desafios mais comuns enfrentados por crianças com dislexia na alfabetização, destacam-se:

    • Consciência fonológica: dificuldade em perceber, segmentar e manipular os sons das palavras, o que compromete a capacidade de decodificação da leitura.
    • Memorização: problemas para armazenar e recuperar informações fonológicas, dificultando a memorização de palavras, regras ortográficas e sequência de letras em sílabas e frases.
    • Fluência na leitura: leitura lenta e hesitante, com pausas frequentes, troca de letras ou sílabas e dificuldade em reconhecer palavras familiares automaticamente.

    Essas dificuldades impactam diretamente o aprendizado da escrita, pois a criança pode ter problemas para escrever palavras corretamente, inverter letras e omitir sílabas. Isso pode gerar frustração e cansaço, já que a leitura e a escrita exigem um esforço muito maior do que o esperado para a idade.

    Possíveis Impactos Emocionais: Frustração e Baixa Autoestima

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    Os desafios enfrentados por crianças disléxicas vão além das dificuldades acadêmicas. Crianças com dislexia podem desenvolver problemas emocionais, como frustração, ansiedade e baixa autoestima, devido ao constante esforço necessário para acompanhar as atividades escolares.

    A repetição de erros, a dificuldade em acompanhar os colegas e a falta de reconhecimento podem levar a sentimentos de incapacidade e desmotivação. Muitas vezes, sem um diagnóstico adequado e apoio pedagógico, essas crianças podem evitar atividades que envolvam leitura e escrita, prejudicando ainda mais seu desenvolvimento escolar e social.

    Para minimizar esses impactos, é essencial que pais, professores e profissionais da educação ofereçam suporte emocional e estratégias pedagógicas baseadas em evidências. Métodos de ensino multissensoriais, instrução fônica, acompanhamento profissional e um ambiente escolar inclusivo podem ajudar a criança a desenvolver confiança e superar os desafios da alfabetização.

    Com um diagnóstico precoce e intervenções adequadas, é possível transformar as dificuldades em oportunidades, garantindo que a criança com dislexia possa aprender a ler e escrever de forma mais eficiente e, acima de tudo, com mais segurança.

    4. Sinais de Alerta: Como Identificar a Dislexia na Infância

    A identificação precoce da dislexia é essencial para que a criança receba o suporte adequado e possa desenvolver habilidades de leitura e escrita de maneira mais eficiente. Segundo a International Dyslexia Association (www.dyslexiaida.org), os sinais da dislexia podem surgir antes mesmo da fase de alfabetização e se tornam mais evidentes conforme a criança inicia o processo de leitura e escrita.

    Sinais de Dislexia na Primeira Infância

    Embora a dislexia seja mais perceptível durante a alfabetização, alguns sinais podem aparecer ainda na primeira infância. Crianças pequenas podem demonstrar dificuldades relacionadas ao desenvolvimento da linguagem e habilidades motoras, como:

    • Atraso na fala – demora para começar a falar ou dificuldade em formar frases coerentes.
    • Problemas na pronúncia – troca de sons em palavras ou dificuldade em lembrar e repetir palavras novas.
    • Dificuldade em aprender rimas e canções infantis – a criança pode ter dificuldade em acompanhar músicas e poemas que envolvem padrões sonoros repetitivos.
    • Problemas com memória curto prazo – dificuldade em lembrar sequências de palavras, cores, números e nomes de objetos.
    • Coordenação motora fina prejudicada – dificuldade em segurar lápis, brincar com blocos de montar ou usar tesoura.

    Caso esses sinais persistam, é importante que os pais e educadores fiquem atentos e busquem orientação profissional para um diagnóstico adequado.

    Erros Frequentes na Leitura e Escrita

    À medida que a criança inicia a alfabetização, os sinais da dislexia se tornam mais evidentes. Dificuldades recorrentes na leitura e escrita podem indicar a necessidade de um acompanhamento especializado. Alguns erros frequentes incluem:

    • Dificuldade para reconhecer e lembrar palavras simples.
    • Erros constantes na leitura, como adivinhar palavras em vez de decodificá-las.
    •  Escrita desorganizada, com palavras unidas ou separadas indevidamente.
    • Dificuldade na Correspondência entre Sons e Letras
    • Crianças com dislexia apresentam dificuldades para associar fonemas (sons) a grafemas (letras). Isso compromete a decodificação da leitura e a formação de palavras na escrita.

    Trocas, Omissões e Inversões de Letras e Sílabas

    A inversão de letras como “b” e “d” ou “p” e “q”, bem como a omissão de letras ao escrever palavras, são sinais comuns da dislexia e podem persistir mesmo após reforços escolares.

    Problemas com Ritmo e Coordenação Motora na Escrita

    Dificuldades na escrita cursiva, lentidão para copiar do quadro e letras desorganizadas podem indicar que a criança tem problemas motores associados à dislexia. A coordenação motora fina também pode ser afetada, tornando tarefas como desenhar, recortar e escrever mais difíceis.

    A identificação desses sinais deve levar a uma avaliação mais detalhada com profissionais especializados para que a criança receba o suporte adequado e possa se desenvolver plenamente.

    5. Estratégias para Ajudar Crianças com Dislexia na Alfabetização

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    O suporte adequado pode transformar a experiência de aprendizado das crianças com dislexia. Métodos diferenciados, recursos adaptados e um ambiente de ensino inclusivo fazem toda a diferença.

    Métodos multissensoriais de ensino

    A abordagem multisensorial, que envolve diferentes modalidades sensoriais (SEABRA e DIAS, 2011), tem se mostrado altamente eficaz para crianças com dislexia. Segundo a International Dyslexia Association, técnicas que utilizam materiais táteis (como letras de feltro ou areia) e atividades auditivas ajudam na fixação do conhecimento.

    A importância da repetição e da personalização do aprendizado

    A repetição sistemática e o ensino individualizado são fundamentais. Estratégias como reforço contínuo de padrões fonéticos e a adaptação das atividades conforme o ritmo da criança ajudam na assimilação dos conteúdos.

    Recursos didáticos adaptados: jogos, músicas e tecnologia assistiva

    Softwares educativos, aplicativos interativos, jogos fonológicos e músicas são ferramentas valiosas para o ensino da leitura e da escrita de forma lúdica e eficaz.

    O papel da família e dos professores no apoio ao processo de alfabetização

    Pais e professores precisam atuar em conjunto para fornecer suporte emocional e pedagógico. Incentivar a leitura em casa, oferecer paciência e reforçar os progressos são atitudes essenciais para o desenvolvimento da criança.

    6. Métodos de Ensino para Crianças com Dislexia

    Os métodos de ensino precisam ser estruturados e adaptados para atender às necessidades das crianças disléxicas.

    Segundo Capovilla et al. (2007),  dados sugerem que as dificuldades relacionadas à leitura e à escrita das crianças com dislexia estão, em grande medida, associadas a problemas iniciais no processamento fonológico. Pesquisas realizadas no Brasil apontam que essas dificuldades podem ser reduzidas de forma significativa com a introdução antecipada de atividades fônicas desde os primeiros passos da alfabetização.

    Abordagens fônicas e estruturadas no ensino da leitura

    Ensinar de maneira explícita, sistemática e com instrução fônica – enfatizando a relação entre letras e sons – é uma das abordagens mais recomendadas para crianças com dislexia.

    A importância da leitura em voz alta e da prática diária

    A leitura em voz alta ajuda a criança a desenvolver a fluência e a compreensão leitora. Criar uma rotina de leitura diária, com textos adaptados ao nível da criança, pode tornar a aprendizagem mais  prazerosa.

    7. A Importância do Diagnóstico e Acompanhamento Profissional

    O diagnóstico da dislexia deve ser realizado por uma equipe multidisciplinar, garantindo que a criança receba o suporte necessário.

    Quando e como buscar avaliação profissional

    Se a criança apresenta dificuldades persistentes na leitura e escrita, é essencial procurar um especialista para uma avaliação detalhada.

    O diagnóstico e a intervenção envolvem profissionais como fonoaudiólogos, psicopedagogos, neuropsicólogos e neuropediatras.

    Intervenções e suporte especializado para um aprendizado eficaz

    Com um acompanhamento adequado, as dificuldades da dislexia podem ser minimizadas, permitindo que a criança desenvolva seu potencial de leitura e escrita.

    Conclusão

    A dislexia é um desafio, mas com diagnóstico precoce, estratégias baseadas em evidências e suporte profissional, as crianças podem aprender a ler e escrever com mais confiança.

    É fundamental promover um ensino inclusivo, garantindo que cada criança receba o suporte necessário para superar as dificuldades. Pais e professores desempenham um papel essencial nesse processo, e a adoção de métodos estruturados e adaptados pode transformar a jornada de alfabetização das crianças com dislexia.

    *Como vimos, o ensino para crianças com esse transtorno de aprendizagem deve ser explícito e sistemático, com foco principalmente no desenvolvimento e estímulo da consciência fonológica. Se desejar baixar atividades de consciência fonológica, clique aqui!

    **Querido leitor, espero que tenha gostado do artigo. Ele foi elaborado com muito carinho, pensando em nossas crianças com dislexia, que tanto precisam de atenção e de educadores especializados, capazes de alfabetizá-las de maneira eficiente!

    Referências

    APA – AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. DSM-V-TR – Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. 5a ed. rev. Porto Alegre: Artmed, 2023.

    CAPELLINI, Simone Aparecida; PADULA, Nayara A. M. R.; SANTOS, Luciana C. A.; LOURENCETI, M. D.; CARRENHO, E. H.; RIBEIRO, L. A. Desempenho em consciência fonológica, memória operacional, leitura e escrita na dislexia familial. Pró-Fono Revista de Atualização Científica, Barueri, v. 19, n. 4, p. 374-380, out./dez. 2007.

    CAPOVILLA, Fernando Cesar; SEABRA, Alessandra Gotuzo; TREVISAN, Bruna Tonietti. Natureza das dificuldades de leitura em crianças brasileiras com dislexia do desenvolvimento. Revista Eletrônica Acolhendo a Alfabetização nos Países de Língua Portuguesa, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 6-18, set. 2007 – fev. 2008. Universidade de São Paulo. DOI: 10.11606/issn.1980-7686.v1i1p7-25.

    GOTUZO, Alessandra; DIAS, Natália Martins. Métodos de alfabetização: delimitação de procedimentos e considerações para uma prática eficaz. Revista Psicopedagogia, v. 28, n. 87, p. 306-320, 2011.

    INTERNATIONAL DYSLEXIA ASSOCIATION. Definition of Dyslexia. International Dyslexia Association, [s.d.]. Disponível em: https://dyslexiaida.org/definition-of-dyslexia/. Acesso em: 18 fev. 2025.

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