depressão

Depressão Infantil: Sinais de Alerta, Impactos na Vida e Caminhos para o Tratamento

6 e 7 anos (Alfabetização)

A depressão infantil é uma condição de saúde mental que pode afetar significativamente o desenvolvimento das crianças e adolescentes. Diferente da tristeza passageira, a depressão se manifesta de forma persistente e pode prejudicar diversos aspectos da vida infantil. Neste artigo, abordaremos os principais sinais de alerta, os impactos da depressão infantil e os caminhos possíveis para o tratamento.

O Avanço da Depressão em Crianças e Adolescentes

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria1 (2019), a depressão durante a infância e a adolescência tem sido amplamente estudada em nível internacional devido ao aumento significativo de casos registrados nos últimos anos. Estudos associam a depressão na idade adulta a fatores de risco relacionados à gestação e aos primeiros anos de vida.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2015) e o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), estima-se que cerca de 300 milhões de pessoas no mundo sofram de algum tipo de transtorno depressivo, o que corresponde a 4,4% da população global. Dados da American Psychiatric Association indicam que uma em cada seis pessoas (16,6%) enfrentará a depressão em algum momento da vida, com maior incidência entre mulheres. No entanto, todos, incluindo crianças e adolescentes, podem desenvolver o transtorno.

O Brasil apresenta a maior taxa de depressão na América Latina, com mais de 11,5 milhões de pessoas afetadas, o que corresponde a cerca de 5,8% da população brasileira, um índice superior à média global (SOUZA e RODRIGUES, 2020).2

O crescimento no número de diagnósticos de depressão entre crianças e adolescentes também é alarmante. A OMS revelou que, ao longo de um período de 10 anos, a taxa de diagnóstico de depressão em crianças de 6 a 12 anos aumentou de 4,5% para 8%. No Brasil, as pesquisas sobre depressão infantil ainda são limitadas, mas estima-se que a prevalência do transtorno entre crianças e adolescentes de 0 a 17 anos varie entre 1% e 3%, o que representa cerca de 8 milhões de indivíduos afetados (SOUZA e RODRIGUES, 2020).

Sinais de Alerta da Depressão Infantil

depressão

A partir dos 6 anos de idade, é importante observar alguns comportamentos que podem indicar depressão em crianças e adolescentes. A seguir, veremos os principais sinais de alerta e, no tópico seguinte, detalharemos, segundo o DSM-5-TR (APA, 2023), os diferentes tipos de depressão que podem afetá-los.

Os principais sinais que pais e professores precisam estar atentos são:

  • Mudanças de humor constantes: irritabilidade, tristeza profunda ou apatia persistente.
  • Falta de interesse em atividades: recusa em brincar, interagir com amigos ou participar de atividades antes apreciadas.
  • Alterações no sono: insônia ou sono excessivo.
  • Dificuldades na escola: queda no desempenho acadêmico, falta de concentração e desmotivação.
  • Mudanças no apetite: perda ou aumento significativo do apetite.
  • Fadiga e falta de energia: mesmo sem esforço físico intenso.
  • Baixa autoestima: sentimentos de culpa, inutilidade e autocrítica exagerada.
  • Pensamentos negativos: em casos mais graves, podem surgir pensamentos suicidas.

A Depressão em Crianças e Adolescentes: Sinais e Sintomas34

As expressões dos transtornos depressivos em crianças são parecidas com as observadas em adultos, mas estão ligadas a preocupações recorrentes da infância, como deveres escolares e brincadeiras. Muitas vezes, as crianças têm dificuldade em explicitar seus sentimentos. A depressão deve ser analisada quando há um desempenho acadêmico abaixo do esperado para a idade, surgimento de isolamento social ou envolvimento em comportamentos delituosos.

Em determinadas crianças que sofrem de depressão, o humor predominante pode ser irritabilidade, em vez de tristeza, o que é uma distinção crítica entre as manifestações em crianças e em adultos. A irritação relacionada à depressão em crianças pode se manifestar por meio de comportamentos hiperativos, agressivos e antissociais.

Os transtornos depressivos em crianças e adolescentes abrangem:

  1. Transtorno Disruptivo da Desregulação do Humor: têm início entre os 6 e 10 anos de idade. Inclui uma irritação constante e momentos recorrentes de comportamentos extremamente descontrolados. O diagnóstico é realizado entre os 6 e 18 anos de idade.

Os indícios devem estar presentes por 12 meses ou mais:

  1. Raiva desproporcional e/ou agressão física a pessoas ou patrimônios. Esses comportamentos ocorrem três ou mais vezes por semana.
  2. Atitudes emocionais desproporcionais em relação ao estágio de desenvolvimento.
  3. Irritabilidade e frustração que se manifestam diariamente, em grande parte do dia, e que são percebidas por pessoas ao redor (por exemplo, pais, professores, amigos).
  1. Transtorno Depressivo Maior: É uma ocorrência depressiva discreta que permanece por duas semanas ou mais. Acontece em aproximadamente 2% das crianças e 5% dos adolescentes. Esse transtorno pode ocorrer em qualquer idade, porém é mais usual após a puberdade. Para o diagnóstico, mais de um dos sintomas precisa estar presente durante a maior parte do dia, quase todos os dias, ao longo do mesmo período de duas semanas:
    • Sentimento de tristeza ou pessoas ao redor notarem a tristeza, como por exemplo: choro ou irritabilidade.
    • Diminuição do interesse ou prazer na maioria das atividades, muitas vezes acompanhada por uma expressão de profundo desânimo.

Também deve apresentar mais de quatro dos seguintes itens:

  • Crianças: perda de peso ou dificuldade de alcançar o peso esperado para a idade.
  • Baixo apetite ou aumento desproporcional.
  • Dificuldade para dormir ou sono excessivo.
  • Agitação ou lentificação psicomotora perceptível por outras pessoas.
  • Sensação persistente de fadiga ou perda de energia.
  • Dificuldade em pensar, concentrar-se ou tomar decisões.
  • Pensamentos recorrentes sobre a morte (não se limitando ao medo de morrer), incluindo ideias ou planos suicidas.
  • Sentimentos de inutilidade, como se sentir rejeitado ou não amado, ou culpa excessiva e inadequada.
  1. Transtorno Depressivo Persistente (Distimia): A distimia é um estado de humor deprimido ou irritável persistente que se manifesta durante a maior parte do dia, na maioria dos dias do ano, por um período superior a um ano. Esse quadro está associado a pelo menos dois dos seguintes sintomas:
  • Alterações no apetite (diminuição ou compulsão alimentar).
  • Dificuldade para dormir (insônia) ou sono excessivo (hipersonia).
  • Sensação constante de cansaço ou baixa energia.
  • Autoestima reduzida.
  • Dificuldade de concentração ou tomada de decisões.
  • Sentimentos de desesperança.

Os sintomas podem variar em intensidade, sendo mais leves ou mais graves do que os de um transtorno depressivo maior.

Como Acontece o Diagnóstico

depressão

O diagnóstico da depressão requer avaliação com um médico psiquiatra, com base em sinais e sintomas observados no paciente. A definição da condição segue os critérios estabelecidos pelo Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, 5th Edition, Text Revision (DSM-5-TR), que delineia os sintomas necessários para o diagnóstico de transtornos depressivos.

De acordo com o médico psiquiatra Dr. Roberto Santoro5, o diagnóstico pode ocorrer a partir dos 6 anos.

A coleta de informações para a análise clínica provém de diferentes fontes, incluindo entrevistas diretas com a criança ou adolescente e relatos de pais e professores. Para complementar a investigação, questionários breves de rastreio podem ser utilizados para identificar possíveis sintomas depressivos. Durante a avaliação, é fundamental empregar questões fechadas específicas para verificar se o paciente apresenta os sintomas exigidos pelo DSM-5-TR para depressão maior. Além disso, uma investigação detalhada do contexto familiar e social do indivíduo é essencial, pois fatores ambientais e estressores podem contribuir significativamente para o desenvolvimento e agravamento do quadro depressivo.

Portanto, o diagnóstico da depressão requer um olhar atento do profissional de saúde mental, considerando não apenas os sintomas clínicos, mas também o impacto de aspectos emocionais e sociais na vida do paciente.

Impactos da Depressão Infantil na Vida da Criança

A depressão pode afetar vários aspectos da vida da criança, comprometendo seu bem-estar e desenvolvimento:

  1. Desenvolvimento Cognitivo e Acadêmico
    A criança deprimida pode ter dificuldades de concentração, raciocínio lento e falta de motivação para aprender. Isso pode levar a um impacto negativo no desempenho escolar.
  1. Relacionamentos Interpessoais
    A dificuldade em expressar emoções e interagir socialmente pode levar ao isolamento e à dificuldade em construir amizades saudáveis.
  1. Saúde Física
    A depressão infantil pode influenciar na imunidade e aumentar o risco de doenças físicas, como dores crônicas, distúrbios alimentares e fadiga excessiva.
  1. Risco de Depressão na Vida Adulta
    Se não tratada adequadamente, a depressão infantil pode persistir na adolescência e na vida adulta, aumentando o risco de transtornos mentais mais graves.

Caminhos para o Tratamento da Depressão Infantil (ELIA, 2023)

depressão

O tratamento da depressão infantil deve ser individualizado, levando em consideração a gravidade dos sintomas e as necessidades da criança. Algumas abordagens eficazes incluem:

  • Psicoterapia
    A terapia cognitivo-comportamental (TCC) é uma das abordagens mais recomendadas para crianças com depressão, ajudando-as a reconhecer e modificar padrões negativos de pensamento e comportamento.
  • Apoio Familiar
    Pais e cuidadores desempenham um papel essencial no tratamento. Manter um ambiente seguro e acolhedor, oferecer apoio emocional e evitar cobranças excessivas são atitudes fundamentais. A psicoterapia também inclui o acompanhamento dos pais, oferecendo orientação e estratégias de manejo que auxiliam no tratamento da depressão.
  • Intervenção Escolar
    Professores e educadores devem estar preparados para identificar sinais de depressão e auxiliar na criação de um ambiente escolar mais inclusivo e acolhedor.
  • Atividade Física e Hábitos Saudáveis
    A prática de esportes e a adoção de uma alimentação equilibrada podem contribuir significativamente para a saúde mental da criança.
  • Uso de Medicamentos (Quando Necessário)
    Em casos graves, pode ser indicado o uso de antidepressivos, sempre com acompanhamento médico especializado e criterioso. A maioria dos profissionais de saúde prefere a psicoterapia para crianças pequenas; no entanto, em alguns casos, o uso de medicamentos pode ser indicado (como a fluoxetina em crianças a partir de 8 anos), principalmente quando a depressão é severa ou não respondeu adequadamente à psicoterapia anterior (ELIA, 2023).

Conclusão

depressão

A depressão infantil é uma condição séria que afeta não apenas o bem-estar emocional, mas também o desenvolvimento cognitivo, social e físico das crianças. Embora os sinais possam ser difíceis de identificar, especialmente em crianças mais novas, é fundamental que pais, educadores e profissionais de saúde estejam atentos aos sintomas para garantir um diagnóstico precoce e intervenções adequadas. O tratamento, que envolve uma combinação de psicoterapia, apoio familiar e, quando necessário, medicação, pode ajudar a criança a superar os desafios impostos pela depressão e a desenvolver um futuro mais saudável e equilibrado.

Quanto mais cedo a condição for identificada e tratada, maiores são as chances de uma recuperação eficaz e de um impacto positivo no desenvolvimento da criança. Portanto, é essencial que todos os envolvidos na vida da criança, desde a família até a escola, trabalhem em conjunto para oferecer o suporte necessário e garantir que as crianças tenham a oportunidade de alcançar seu pleno potencial emocional e social.

Se quiser saber mais sobre o Transtorno Opositor Desafiante (TOD), clique aqui.

Referências

  1. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Depressão na infância e adolescência. 2019. Disponível em: https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/_21999c-DocCient_-_Depressao_na_infancia_e_adolescencia.pdf. Acesso em: 10 mar. 2025. ↩︎
  2. SOUZA, Sheila Carla de; RODRIGUES, Tuane Mena. Depressão infantil: considerações para professores da educação básica. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v. 6, n. 6, p. 34326-34338, jun. 2020. DOI: 10.34117/bjdv6n6-106. ↩︎
  3. MERCK MANUALS. Overview of psychiatric disorders in children and adolescents. Merck Manuals, 2025. Disponível em: https://www.merckmanuals.com/professional/pediatrics/psychiatric-disorders-in-children-and-adolescents/overview-of-psychiatric-disorders-in-children-and-adolescents. Acesso em: 10 mar. 2025. ↩︎
  4. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5-TR. 5. ed. (texto revisado). Porto Alegre: Artmed, 2023. ↩︎
  5. Chloé Pinheiro. Depressão em crianças pequenas: tudo o que você precisa saber. 2020. Disponível em: https://bebe.abril.com.br/desenvolvimento-infantil/depressao-em-criancas-pequenas-tudo-que-voce-precisa-saber/. Acesso em: 10 mar. 2025. ↩︎

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *