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Falta de Professores na Educação Básica no Brasil: Um Desafio Crítico para o Futuro

6 e 7 anos (Alfabetização)

A educação básica no Brasil, que abrange desde a educação infantil até o ensino médio, enfrenta há décadas uma série de desafios estruturais que comprometem sua qualidade e alcance. Entre esses problemas, a falta de professores emerge como uma das questões mais urgentes e preocupantes. Não se trata apenas de uma escassez numérica, mas também de um cenário complexo que envolve desvalorização profissional, formação insuficiente, condições precárias de trabalho e uma crise de atratividade da carreira docente. Este artigo explora as causas, consequências e possíveis soluções para esse fenômeno, que ameaça o desenvolvimento educacional e social do país.

O Cenário Atual: Um Déficit Alarmante

A escassez de professores na educação básica não é uma novidade, mas os números recentes mostram que o problema está se agravando. Segundo SEMESP (2022)1 o Brasil pode enfrentar um déficit de até 235 mil professores na educação básica até 2040, caso as tendências atuais se mantenham. Esse “apagão de professores” já é uma realidade em diversas regiões, especialmente nas áreas rurais e nas periferias urbanas, onde a oferta de profissionais qualificados é ainda mais limitada.

Os dados mostram que disciplinas como matemática, física, química e língua estrangeira são as mais afetadas. Por exemplo, nas séries finais do ensino fundamental, faltam cerca de 34,7% de professores habilitados em matemática e 54,5% em literatura, segundo o estudo “Carência de professores na educação básica: risco e apagão?” (BOF, CASEIRO E MUNDIM, 2023)2. No ensino médio, a situação não é diferente: apenas 43,3% dos docentes de língua estrangeira possuem formação adequada. Esses números revelam não apenas a falta de professores em quantidade, mas também a ausência de qualificação específica para atender às demandas curriculares.

Além disso, o envelhecimento da categoria docente agrava o quadro. Entre 2009 e 2021, o número de professores com até 24 anos caiu 42,4%, enquanto aqueles com 50 anos ou mais aumentou 109%. Isso indica que poucos jovens estão ingressando na profissão, enquanto os veteranos se aproximam da aposentadoria, deixando um vácuo que o sistema educacional não está preparado para preencher.

As Causas da Crise

A falta de professores na educação básica brasileira é um problema multifacetado, cujas raízes estão entrelaçadas com questões sociais, econômicas e políticas. Aqui estão algumas das principais causas:

Desvalorização Profissional

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O magistério no Brasil é historicamente marcado por baixos salários e falta de reconhecimento social. Em 2020, a média salarial de um professor do ensino médio era de R$ 5,4 mil, enquanto outros profissionais com ensino superior ganhavam, em média, R$ 6,5 mil.  Essa discrepância desmotiva os jovens a seguirem a carreira docente, especialmente quando comparada a outras profissões que exigem o mesmo nível de formação, mas oferecem melhores condições financeiras e prestígio.

    Condições Precárias de Trabalho

      Muitas escolas públicas, especialmente em regiões mais pobres, carecem de infraestrutura básica. Em 2021, 3,8% das escolas públicas não tinham banheiros, 5,8% não possuíam água potável e 5,5% estavam sem esgotamento sanitário. Além disso, a violência escolar e a sobrecarga de trabalho – com professores muitas vezes acumulando múltiplos turnos para complementar a renda – tornam a profissão ainda menos atraente.

      Formação Insuficiente e Desinteresse nas Licenciaturas

      A formação de professores, oferecida majoritariamente por cursos de licenciatura, enfrenta uma crise de atratividade. Entre 2016 e 2020, houve quedas significativas no número de concluintes em áreas como biologia (-21,3%), química (-12,8%) e ciências sociais (-11,7%), enquanto o curso de pedagogia viu um aumento de 9,8%, impulsionado pela demanda por educação infantil. No entanto, esse crescimento não compensa a carência nas demais disciplinas, especialmente nas ciências exatas, onde o déficit é mais crítico.

      Falta de Políticas Públicas Consistentes

      Apesar de iniciativas como o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica (Fundeb) e o Piso Salarial Nacional, a implementação de políticas de valorização docente é irregular. Muitos estados e municípios recorrem a contratações temporárias, que desrespeitam a Constituição Federal (artigo 37) e criam instabilidade na carreira, afastando profissionais qualificados.

      Mudanças Sociais e Culturais

      A percepção da profissão docente mudou ao longo das décadas. Antes vista como um ofício respeitado, hoje sofre com a desvalorização cultural e a falta de apoio da sociedade. Jovens em busca de ascensão social tendem a optar por carreiras mais lucrativas ou alinhadas às demandas do mercado, como tecnologia e saúde, em vez de investir na educação.

      Violência Escolar e a Desistência Docente

      A violência escolar tem se tornado um dos principais fatores que levam professores a desistirem da carreira, impactando diretamente a qualidade da educação e a permanência desses profissionais na sala de aula. O ambiente escolar, que deveria ser um espaço de aprendizado e segurança, muitas vezes se transforma em um cenário de tensão e medo, tanto para alunos quanto para docentes.

      Segundo a pesquisa realizada pelo SEMESP em 2022, os professores relatam não apenas os desafios pedagógicos, mas também as dificuldades emocionais e físicas enfrentadas no exercício da profissão. Embora o estudo foque em aspectos amplos da educação, ele aponta um aumento no desgaste profissional, que pode ser agravado por situações de violência, como agressões verbais e até físicas, frequentemente vivenciadas no cotidiano escolar.

      Esse tipo de situação mina a motivação dos educadores, que se sentem desvalorizados e desprotegidos. A falta de suporte institucional e de políticas públicas eficazes para lidar com o problema intensifica a sensação de impotência. Muitos professores, ao se depararem com episódios recorrentes de desrespeito ou hostilidade, passam a questionar a continuidade na profissão, optando por abandoná-la em busca de bem-estar e segurança.

      O esgotamento emocional é uma realidade crescente entre os docentes, e a violência escolar contribui significativamente para esse quadro, sendo um obstáculo que vai além das questões salariais ou de infraestrutura. Assim, a violência no ambiente escolar não afeta apenas os alunos, mas também compromete a carreira de professores, evidenciando a urgência de medidas que promovam um espaço mais seguro e acolhedor para todos os envolvidos no processo educativo.

      Consequências para a Educação e a Sociedade

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      A escassez de professores tem impactos profundos, que vão além das salas de aula e afetam o desenvolvimento do país como um todo. Um dos efeitos mais imediatos é a queda na qualidade do ensino. Sem docentes qualificados, os alunos recebem uma educação deficiente, o que se reflete em indicadores como o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) e o Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (PISA), onde o Brasil consistentemente aparece nas últimas posições.

      Outro problema é o aumento das desigualdades educacionais. Regiões como o Norte e o Nordeste, que já sofrem com menos professores habilitados (47,4% e 46,5% nas séries finais do ensino fundamental, respectivamente), ficam ainda mais prejudicadas, perpetuando um ciclo de pobreza e exclusão social (BOF et al., 2023). Alunos dessas áreas têm menos acesso a disciplinas fundamentais, como matemática e ciências, o que limita suas chances no mercado de trabalho e no ensino superior.

      A longo prazo, a falta de professores compromete o capital humano do país. Uma nação sem educação de qualidade enfrenta dificuldades para inovar, competir globalmente e resolver problemas sociais como a violência e a desigualdade.

      Possíveis Soluções: Um Caminho a Seguir

      Como vimos, a profissão de professor, essencial para o desenvolvimento social e econômico, perdeu atratividade nas últimas décadas. Dados mostram que os salários dos docentes são inferiores à média de outros profissionais com ensino superior, e as condições de trabalho — marcadas por violência nas escolas, falta de infraestrutura e jornadas exaustivas — afastam novos talentos. Além disso,  estudantes de licenciatura abandonam os cursos antes da formatura, e muitos dos que se formam desistem da sala de aula nos primeiros anos. Diante desse alerta, é urgente agir. Abaixo,  algumas possíveis soluções podem reverter essa crise.

      Valorização Salarial e Plano de Carreira Atrativo

      Um dos principais entraves para atrair e reter professores é a baixa remuneração. Em 2020, a média salarial de um professor do ensino médio era de R$ 5,4 mil, enquanto outros profissionais graduados ganhavam cerca de R$ 6,5 mil. A solução passa por ajustar os salários a níveis competitivos e criar planos de carreira que ofereçam progressão baseada em mérito, tempo de serviço e capacitação. Países como Finlândia e Canadá, referências em educação, mostram que investir no prestígio financeiro dos docentes é um passo essencial.

      Melhoria das Condições de Trabalho

      Escolas sem infraestrutura adequada, como salas de professores ou recursos tecnológicos, e o aumento da violência no ambiente escolar desmotivam os profissionais. Investir em segurança, modernizar as instalações e garantir suporte psicológico para os docentes são medidas práticas que podem tornar a profissão mais sustentável. Um ambiente de trabalho digno não só retém os professores atuais, mas também inspira os jovens a seguirem essa carreira.

      Incentivos para a Formação em Licenciaturas

      Ampliar bolsas de estudo, criar parcerias com universidades e incluir estágios remunerados desde o início da formação podem aumentar o número de concluintes e preparar melhor os futuros professores para os desafios da sala de aula.

      Formação Continuada e Atualização Curricular

      Os currículos das licenciaturas precisam acompanhar as demandas do século XXI, integrando tecnologia, metodologias ativas e práticas interdisciplinares. Além disso, oferecer formação continuada gratuita e acessível — com cursos de especialização e workshops — mantém os professores atualizados e valorizados. Um docente bem preparado tem mais confiança e impacto no aprendizado dos alunos, o que reforça a importância da profissão.

      Vale reforçar a importância de apresentar as últimas evidências científicas da educação aos professores, especialmente àqueles que atuam na alfabetização, foco principal deste site.

      Ampliação de Concursos Públicos e Estabilidade

      A precariedade dos contratos temporários, que dominam muitas vagas no magistério, mina a segurança dos professores. Ampliar concursos públicos, garantindo estabilidade e benefícios como plano de saúde e aposentadoria digna, é uma forma de tornar a carreira mais atraente.

      Um Chamado à Ação

      O “apagão de professores” não é apenas um problema educacional, mas uma ameaça ao futuro do Brasil. Sem professores qualificados, a desigualdade aumenta, o desenvolvimento econômico trava e as oportunidades para as próximas gerações diminuem. As soluções apresentadas exigem vontade política, coordenação entre governos e engajamento da sociedade. Valorizar quem ensina é investir em quem aprende — e, por extensão, em um país mais justo e próspero. O tempo de agir é agora.

      O Papel da Sociedade

      Embora o governo tenha a maior responsabilidade na implementação dessas mudanças, a sociedade também desempenha um papel fundamental. Pais, alunos e comunidades locais precisam reconhecer o valor dos professores e pressionar por melhorias.

      Um Futuro em Jogo

      A falta de professores na educação básica no Brasil não é apenas um problema educacional; é uma questão de justiça social e sobrevivência nacional. Sem profissionais qualificados nas salas de aula, o país arrisca formar gerações despreparadas, incapazes de enfrentar os desafios de um mundo cada vez mais complexo. A crise atual é um alerta: ou investimos na educação agora, ou pagaremos um preço muito mais alto no futuro.

      Resolver esse problema exige vontade política, recursos financeiros e, acima de tudo, uma mudança de mentalidade. Professores não são apenas transmissores de conhecimento; são arquitetos do futuro. Valorizá-los é o primeiro passo para construir um Brasil mais justo, próspero e educado. A pergunta que fica é: estamos dispostos a dar esse passo?

      Um Recado Para Você: Colega Professor!

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      Colegas professores, sabemos bem os desafios que enfrentamos diariamente em sala de aula. A escassez de materiais, a infraestrutura precária e a desvalorização da nossa profissão são obstáculos reais que testam nossa resiliência. Mas não podemos permitir que essas dificuldades nos impeçam de seguir nossa missão ou de buscarmos constantemente o aprimoramento na área em que atuamos.

      Especialmente nós, professores de alfabetização, carregamos a responsabilidade de apresentar o mundo das letras e palavras às crianças. E, felizmente, nunca tivemos tanto acesso a informações e recursos gratuitos que podem enriquecer nossa prática. Hoje, temos a possibilidade de estudar por conta própria, aprofundando nossos conhecimentos por meio da leitura de bons livros e documentos importantes, como o RENABE, que nos ajudam a compreender melhor os processos de ensino e aprendizagem.

      Não podemos nos prender à espera de políticas públicas que muitas vezes demoram a chegar ou sequer alcançam nossas reais necessidades. A formação contínua é uma escolha que podemos e devemos fazer, independentemente das dificuldades. Cada passo dado em direção ao conhecimento fortalece nossa prática e transforma a educação que oferecemos aos nossos alunos. Seguimos juntos, enfrentando os desafios, mas sempre em busca de sermos melhores educadores a cada dia.

      Referências Bibliográficas

      1. SEMESP – Sindicato Das Entidades Mantenedoras De Estabelecimentos De Ensino Superior No Estado De São Paulo. Risco de Apagão de Professores no Brasil. São Paulo: Semesp, 2022. Disponível em: https://www.semesp.org.br/wp-content/uploads/2022/09/pesquisa-semesp-1.pdf. Acesso em: 15 mar. 2025. ↩︎
      2. BOF, Alvana Maria; CASEIRO, Luiz Zalaf; MUNDIM, Fabiano. “Carência de professores na educação básica: risco e apagão?” Cadernos de Estudos e Pesquisas em Políticas Educacionais, v. 9, 2023. ↩︎

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