Neste artigo, veremos quais são as funções executivas e sua importância no dia a dia, tanto na escola quanto em casa, com orientações sobre quando suspeitar que uma criança possa estar enfrentando dificuldades. As informações apresentadas são baseadas na Cartilha dos Pais e do Professor – Educando Funções Executivas, Educando para a Resiliência, do Dr. Marco Antônio Arruda (2014)1 e também do livro “Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais” do Dalgalarrondo (2019).2

1.Função Executiva: Objetivar – Estabelecer Metas
Para realizar qualquer atividade, desde as mais simples até as mais desafiadoras, é essencial ter um propósito claro em mente antes de começar. Em algumas situações, esse propósito surge quase instintivamente, moldado por hábitos e experiências anteriores, como quando nos vestimos pela manhã ou preparamos um café. Já em tarefas mais elaboradas, como resolver um problema matemático, é necessário construir esse objetivo de maneira intencional e bem pensada. Quanto mais nítida for a visão do que se deseja alcançar, mais simples será delinear os passos necessários para chegar lá, aumentando significativamente as chances de sucesso. Além disso, um objetivo bem definido funciona como uma bússola, orientando nossas ações e mantendo o foco mesmo diante de distrações ou obstáculos.
Quando ficar atento?
Crianças que não recebem estímulo para desenvolver essa habilidade podem demonstrar dificuldade em se organizar nas rotinas do dia a dia, como tomar banho, trocar de roupa ou escovar os dentes. Isso se torna ainda mais evidente em atividades novas ou complexas, como as tarefas escolares, onde a falta de clareza sobre o “porquê” ou o “como” pode levá-las a agir de forma impulsiva, sem direção definida.
É comum, nesses casos, observar a criança executando ações de maneira mecânica ou desordenada, sem compreender o propósito por trás delas. Esse comportamento pode ser um sinal de que ela precisa de apoio para aprender a estruturar seus objetivos, uma competência que, quando cultivada desde cedo, reflete positivamente em sua autonomia e capacidade de enfrentar desafios ao longo da vida.
2. Função Executiva: Planejar – Estabelecer Estratégias para Atingir a Meta
A capacidade de criar e seguir um plano de ação, refletindo previamente e definindo as etapas essenciais para alcançar um objetivo, é fundamental. Após determinar uma meta, é preciso desenvolver estratégias e organizar os passos a serem seguidos, priorizando as ações mais relevantes. Crianças que enfrentam dificuldades para planejar e ordenar prioridades frequentemente têm problemas com atividades complexas que demandam várias etapas.
Quando ficar atento?
- A criança age de forma impulsiva e desorganizada ao realizar uma tarefa, tentando resolver tudo sem critério e, com frequência, dependendo de ajuda externa. Exemplo: em casa, ao arrumar o quarto, joga os brinquedos em qualquer lugar sem separar o que vai guardar ou doar, precisando que um adulto intervenha. Na escola, começa uma redação escrevendo frases soltas sem rascunho ou planejamento.
- Busca soluções rápidas ou improvisadas, ignorando a existência de uma sequência lógica para atingir o resultado. Exemplo: em casa, tenta fazer um bolo pulando etapas da receita, como misturar tudo de uma vez sem medir os ingredientes. Na escola, resolve um problema de matemática sem anotar os cálculos, apenas chutando a resposta.
- Ao lidar com múltiplas etapas, não reconhece quais são prioritárias, o que a impede de alcançar o objetivo. Exemplo: em casa, ao preparar a mochila, coloca itens aleatórios primeiro e esquece o lanche ou o estojo. Na escola, em um trabalho em grupo, gasta tempo decorando o cartaz antes de pesquisar o conteúdo.
- Quando há várias tarefas a cumprir em um prazo, foca excessivamente em algo menos relevante, negligenciando as demais. Exemplo: em casa, passa a tarde organizando lápis de cor em vez de fazer a lição de casa que precisa entregar no dia seguinte. Na escola, dedica a aula inteira a desenhar na capa do caderno e não copia a matéria do quadro.
- Tem dificuldade para narrar eventos, explicar ideias ou responder perguntas, pois não consegue organizar os pensamentos de forma coerente. Exemplo: em casa, ao contar como foi o dia, mistura histórias sem ordem, como falar do almoço antes da chegada à escola. Na escola, responde a uma questão oral pulando entre ideias desconexas.
- Demonstra pouca percepção sobre o tempo necessário para completar uma atividade. Exemplo: em casa, acha que pode assistir TV e arrumar o quarto em 10 minutos antes de sair. Na escola, começa um desenho detalhado minutos antes do fim da aula, sem chance de terminar.
3. Função Executiva: Organizar
A habilidade de estruturar ideias, gerenciar materiais e administrar o tempo de forma eficaz é essencial para alcançar objetivos, seja no dia a dia ou em situações mais complexas. Essa capacidade está diretamente ligada a competências como planejar atividades, identificar o que é mais urgente e dar início às tarefas sem procrastinar. Quando uma criança não desenvolve essas habilidades, os reflexos aparecem em diferentes áreas da vida, tanto em casa quanto na escola.
Por exemplo, no ambiente escolar, uma criança desorganizada pode esquecer o caderno em casa e não conseguir acompanhar a aula, ou até mesmo perder o prazo de entrega de um trabalho importante porque não anotou a data corretamente. Em casa, essa desorganização pode se manifestar quando ela deixa brinquedos espalhados pelo chão, não encontra o uniforme na hora de sair ou demora demais para terminar uma simples tarefa, como arrumar a cama, por não saber por onde começar.
Quando as ideias não estão bem organizadas, a criança enfrenta dificuldades para reter o que aprendeu ou para expressar sentimentos e pensamentos de maneira clara. Imagine uma situação em que ela tenta contar como foi seu dia na escola, mas pula de um assunto para outro sem concluir nenhum, deixando quem ouve confuso. Já a falta de noção de tempo pode levá-la a subestimar quanto precisa para se arrumar de manhã, resultando em atrasos constantes, ou a gastar horas em uma atividade simples, como fazer a lição de casa, sem perceber que o prazo está se esgotando.
Esses problemas – desordem com objetos, confusão mental e má gestão do tempo – trazem consequências práticas. Na escola, pode refletir em uma nota baixa por não concluir um projeto. Em casa, pode gerar frustração, como quando a criança promete encontrar os pais na porta da escola após a aula, mas se atrasa e acaba gerando preocupação. Mesmo entendendo a importância de ser organizada, muitas crianças não conseguem mudar sozinhas e precisam de apoio para criar rotinas e estratégias que as ajudem a ter mais controle.
Quando ficar atento?
- Pertences perdidos: ela frequentemente não sabe onde deixou o estojo ou o casaco, seja na escola ou em casa.
- Bagunça generalizada: sapatos jogados pela sala, mochila com papéis amassados e quarto em desordem são sinais claros.
- Dificuldade com prazos: atrasos para sair ou para entregar tarefas mostram que o tempo é um desafio.
- Falta de pontualidade: se você marca de buscá-la às 17h e ela nunca está pronta, isso pode indicar desorganização.
- Confusão ao se expressar: durante uma conversa, ela começa falando sobre a aula de história, mas logo muda para o recreio sem concluir o raciocínio.
Com exemplos assim, fica mais fácil perceber como a organização impacta a vida da criança e como pequenos ajustes, com orientação, podem fazer toda a diferença.
4. Função Executiva: Começar uma tarefa
A capacidade de identificar o momento certo para dar início a uma atividade e colocá-la em prática sem postergar.
Muitas crianças enfrentam desafios para começar suas responsabilidades de forma independente, seja na escola ou em casa. Por exemplo, no ambiente escolar, elas podem demorar a pegar o lápis e começar uma lição, esperando que o professor repita a instrução várias vezes. Em casa, tarefas simples como pentear o cabelo para sair, arrumar seus pertences ou se preparar para dormir podem ser adiadas constantemente, sendo deixadas para o último minuto. Esse comportamento tende a gerar frustração nos pais, que acabam precisando insistir repetidamente, às vezes elevando o tom de voz ou perdendo a paciência diante da demora.
Quando finalmente começam, essas crianças frequentemente desistem ao se deparar com o menor obstáculo – como não encontrar o pente ou achar a lição de casa muito longa. Isso pode desencadear discussões em casa ou chamadas de atenção na escola. É comum que pais e professores interpretem essa atitude como preguiça ou desinteresse. Muitas vezes, essas crianças não sabem por onde começar ou como lidar com os desafios que surgem, o que as leva a procrastinar ou abandonar a atividade.
Crianças com essa dificuldade também costumam apresentar problemas com planejamento e organização. Imagine uma criança que precisa fazer um trabalho escolar sobre animais: ela pode se sentir tão sobrecarregada com a quantidade de etapas (pesquisar, escrever, desenhar) que simplesmente não começa. Em casa, o mesmo acontece ao arrumar o quarto – a bagunça parece grande demais, e ela prefere ficar parada, dizendo “não sei o que fazer”, em vez de dar o primeiro passo.
Quando ficar atento?
- É necessário repetir várias vezes um pedido, como “guarde seus brinquedos” ou “comece a lição”.
- A criança dá a impressão de ser desleixada ou pouco esforçada, mesmo que tenha interesse em agradar.
- Ela depende de um adulto ou colega para dar o primeiro passo, como alguém dizendo “pegue o caderno agora” ou começando a atividade por ela.
- Reclama frequentemente de tédio, dizendo “não tem nada para fazer”, mesmo com várias tarefas pendentes.
- Luta para seguir rotinas, como se arrumar para a escola de manhã ou se preparar para dormir à noite.
- Deixa tudo para depois, enrolando para tomar banho, se alimentar ou fazer algo simples como trocar de roupa.
Essas características envolvem não só o início de tarefas, mas também a persistência para concluí-las. Por exemplo, em casa, uma criança pode levar meia hora para começar a guardar os sapatos porque está distraída ou não sabe por onde começar. Na escola, pode ficar olhando para a folha em branco enquanto os colegas já estão na metade da atividade. Compreender essas barreiras é essencial para evitar julgamentos precipitados e oferecer o suporte necessário, como dividir tarefas em etapas menores ou dar um exemplo prático para ela seguir.
5. Função Executiva: Focar – Prestar atenção

Segundo Dalgalarrondo (2019, p. 82):
“a atenção se refere ao conjunto de processos psicológicos que torna o ser humano capaz de selecionar, filtrar e organizar as informações em unidades controláveis e significativas”.
A atenção é o ato de direcionar a mente de forma consciente e dedicada a um único objetivo, exigindo um esforço para manter o foco.
A falta de atenção, por outro lado, pode passar despercebida, mas aparece em comportamentos comuns. Por exemplo, uma criança pequena que não consegue se entreter por alguns minutos com um único brinquedo, um estudante que vive perdendo objetos como lápis ou borracha, ou um adolescente que esquece compromissos importantes, como levar um recado para casa.
Os pais frequentemente notam esses sinais e os descrevem como crianças que “vivem com a cabeça nas nuvens”. Em casa, isso pode se manifestar quando a criança protela tarefas simples, como arrumar o quarto, ou esquece de escovar os dentes antes de dormir. Na escola, os professores muitas vezes são os primeiros a perceber, observando atitudes como a distração com pequenos eventos: frequentemente o lápis cai da mesa, um barulho do lado de fora ou até um inseto passando pela janela.
A atenção pode ser dividida em três aspectos principais (DALGALARRONDO, 2019; ARUDDA, 2014):
- Seletividade: capacidade de manter a atenção mesmo na presença de estímulos distratores ou concorrentes. Por exemplo, em casa, assistir a um desenho sem se desviar por causa do barulho de alguém mexendo na cozinha; na escola, ouvir a explicação do professor sem se distrair com conversas paralelas.
- Alternância: refere-se à capacidade de mudar o foco de atenção, alternando voluntariamente a atenção de um estímulo para outro durante a realização de tarefas. Um caso comum na escola é copiar um texto do quadro para o caderno, alternando entre olhar o quadro e escrever, sem se perder com algo ao redor. Em casa, pode ser seguir uma receita simples, como olhar os ingredientes e depois misturá-los.
- Manutenção: refere-se à habilidade de manter a atenção por um período prolongado, geralmente durante uma tarefa contínua e repetitiva. Quando um estudante consegue se concentrar em uma aula, acompanhando o raciocínio e a explicação do professor sem se deixar distrair por outros estímulos do ambiente, ele está empregando sua atenção sustentada. Na sala de aula, por exemplo, isso significa acompanhar uma aula inteira sem desviar a atenção para pensamentos aleatórios, como as brincadeiras na hora do recreio. Em casa, pode ser organizar os brinquedos sem desistir no meio do caminho.
A motivação é um fator essencial para a atenção. Quando há interesse, o foco vem mais fácil. Veja o exemplo de uma criança que passa horas jogando videogame sem se distrair, mas não consegue ficar 20 minutos atenta a uma aula de matemática ou a uma tarefa como arrumar a cama.
Quando ficar atento?
Alguns sinais podem surgir no cotidiano:
- Erros frequentes por descuido, como esquecer de responder uma questão na lição de casa ou deixar a mochila desarrumada.
- Dificuldade em manter o foco em atividades, seja durante uma aula ou ao brincar com um jogo de tabuleiro em casa.
- Parecer não ouvir quando alguém fala diretamente, como quando os pais chamam para o jantar e não há resposta.
- Evitar tarefas que exigem esforço mental, como estudar para uma prova ou ajudar a organizar a lista de compras.
- Perder objetos essenciais, como o estojo na escola ou o controle remoto em casa.
- Distrair-se facilmente com barulhos ou movimentos, seja na aula ou durante uma conversa familiar.
- Esquecer rotinas diárias, como guardar os sapatos ao chegar da escola.
6. Função Executiva: Perseverar
Diversas pessoas associam o êxito à habilidade de persistir mesmo enfrentando desafios, esforçando-se para superar barreiras e prosseguir até alcançar o objetivo estabelecido. Essa competência está intimamente conectada a outras funções executivas, como a capacidade de estabelecer metas. A ausência dessa determinação pode gerar impactos negativos ao longo da vida, afetando tanto o rendimento na escola quanto nos relacionamentos, já que os obstáculos são parte natural da existência. Durante o crescimento, essa dificuldade pode se revelar de formas variadas.
Por exemplo, em casa, uma criança que implora aos pais para participar de aulas de natação pode, após algumas sessões, perder o interesse e desistir. Na escola, um aluno pode começar uma pesquisa com entusiasmo, mas abandoná-la antes de concluí-la. Já na adolescência, é comum ver jovens que trocam constantemente de curso técnico ou não se mantêm em um emprego por muito tempo, pulando de uma oportunidade a outra sem firmeza.
Quando ficar atento?
- Desistir diante de um desafio sem tentar buscar soluções, como largar um jogo difícil em casa.
- Abandonar atividades iniciadas.
- Não concluir tarefas, como deixar um desenho pela metade ou um dever escolar incompleto.
- Entregar trabalhos escolares, sem finalizá-los.
7. Função Executiva: Monitorar a si Mesmo
Habilidade de reconhecer e analisar o próprio desempenho.
Crianças que têm dificuldade em se autorregular muitas vezes não notam que estão desviando das orientações até que alguém as alerte. Elas costumam superestimar ou subestimar o esforço que dedicam às atividades e enfrentam desafios para adaptar suas ações com base em feedbacks ou sinais externos. É comum que essas crianças fiquem surpresas ao receber uma nota baixa em uma atividade, pois não conseguem avaliar com precisão seu desempenho.
Todas as outras funções executivas dependem, sem dúvida, da capacidade de uma pessoa se observar. Estudantes bem-sucedidos conseguem ajustar a qualidade de sua concentração, entendimento e resultados durante situações de aprendizagem, adaptando-se ao nível de complexidade que encontram. Quando uma criança está atenta à qualidade de sua dedicação, persistência, organização, autocontrole e execução enquanto realiza uma tarefa, ela consegue moldar tanto seu desempenho quanto o ambiente ao seu redor para otimizar o aprendizado. Entre as estratégias de ajuste estão fazer perguntas, revisitar um texto, evitar distrações ou reformular uma frase que acabou de escrever.
Quando ficar atento?
- Não revisa suas tarefas ou atividades para corrigir possíveis falhas.
- Avalia mal o próprio desempenho, saindo de uma avaliação com a impressão de ter se saído bem, quando o resultado foi o oposto.
- Não se dá conta de que suas atitudes estão perturbando os outros.
- Acha que é organizada, mesmo que isso não seja verdade.
- Não reconhece sua própria falta de atenção.
- Não nota quando está sendo lenta em atividades que exigem agilidade.
- Fica confusa ao lidar com várias tarefas, demorando demais nas mais simples e deixando outras inacabadas.
- Enfrenta dificuldades para gerenciar o tempo de forma eficaz.
8. Função Executiva: Flexibilizar
Essa capacidade está intimamente ligada à habilidade de enfrentar desafios, compreender a si mesmo e entender as pessoas ao redor. Essa característica possibilita que alguém se coloque na perspectiva alheia, algo essencial para interações sociais bem-sucedidas e para o processo de aprendizagem.
Essa competência é crucial para lidar com as demandas do cotidiano, em que as circunstâncias mudam constantemente. Assim, ela desempenha um papel fundamental na maneira como o indivíduo se ajusta ao ambiente e às relações interpessoais. Crianças que demonstram pouca flexibilidade, agindo de forma rígida, enfrentam dificuldades quando ocorrem alterações em sua rotina, seja no ambiente familiar ou escolar. Elas têm problemas para se acostumar com o novo e, por isso, situações que antes dominavam podem se tornar insolúveis em contextos diferentes.
Devido a essa inflexibilidade, essas crianças tendem a lidar mal com frustrações e não conseguem encontrar soluções satisfatórias para novos desafios. Preferem que tudo siga exatamente seus próprios termos, rejeitando tanto a criação quanto a aceitação de caminhos alternativos para resolver problemas. Essa falta de maleabilidade pode levar a comportamentos intolerantes e desafiadores, comprometendo sua capacidade de se relacionar bem com os outros.
Quando ficar atento?
- Apresenta rigidez no pensamento, sem abertura para outras possibilidades.
- Reage com frustração diante de mudanças em horários, planos ou rotinas.
- Recusa-se a adotar abordagens diferentes para resolver algo, insistindo
que “tem que ser do seu jeito”.
- Encontra dificuldade para mudar de uma atividade para outra, sobretudo quando há novas regras ou exigências.
- Tem problemas para diferenciar entre informações literais e simbólicas ou entre contextos passados e presentes.
- Fica fixado em detalhes de uma tarefa, sem conseguir prosseguir.
9. Função Executiva: Inibir – Controle dos impulsos
É a capacidade de refletir antes de agir, analisar uma situação e então decidir se algo deve ou não ser dito ou feito. A habilidade de controlar a raiva, dominar os impulsos, moderar os desejos e se proteger dos perigos que a impulsividade humana pode causar é essencial para o sucesso em todas as áreas da nossa vida. Para muitos especialistas, essa capacidade de inibição é a base para todas as outras, sendo crucial para o nosso funcionamento executivo.
Crianças com baixa capacidade de inibição frequentemente falam ou agem sem pensar antes. Elas são guiadas basicamente pelo prazer, sem considerar suas responsabilidades ou compromissos. Essas crianças tendem a realizar tarefas e entregar provas rapidamente, sem revisar, o que compromete seu desempenho. Mais preocupante ainda, a falta de controle sobre os impulsos muitas vezes as coloca em situações de risco.
A ausência de inibição, comum em jovens com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), aumenta significativamente o risco de acidentes de carro, doenças sexualmente transmissíveis, gravidez precoce e o uso, abuso ou dependência de substâncias, entre outros resultados negativos.
Quando ficar atento?
- Age de forma impulsiva, “sem controle”, incapaz de frear seu comportamento ou reações.
- A criança é precipitada e se envolve em situações arriscadas.
- É repetitiva, fala ou solicita a mesma coisa várias vezes.
- Fala fora de hora, interrompe os outros e não consegue esperar sua vez.
- Mesmo conhecendo a resposta, erra por descuido, impulsividade ou falta de atenção.
- Não reflete antes de falar ou agir.
- Não consegue manter segredos.
10. Função Executiva: Regular – Controle das emoções
Refere-se a habilidade de controlar a exteriorização das emoções.
As crianças nascem com diferentes níveis de capacidade para enfrentar frustrações e lidar com a raiva. Aquelas com menor controle enfrentam desafios significativos em suas interações sociais, no ambiente escolar e dentro da família. Para elas, é difícil acolher críticas, mesmo as bem-intencionadas, e frequentemente reagem chorando por motivos triviais ou perdendo o foco em seus objetivos diante de situações desagradáveis ou imprevistas. Com facilidade, classificam algo como “injusto” e têm reações desproporcionais ao perderem um jogo ou receberem uma repreensão, seja em casa ou na escola.
Quando ficar atento?
- A criança exagera em situações simples, transformando pequenos contratempos em grandes dramas.
- Tem rompantes explosivos ao ser contrariada.
- Fica irritada sem razão aparente.
- Apresenta mudanças de humor repentinas e frequentes.
- Demonstra frustração e chora com pouco esforço.
- Seus episódios de raiva ou choro são intensos, mas de curta duração.
11. Função Executiva: Operacionalizar – Memória Operacional de Trabalho

A habilidade de reter dados na mente e utilizá-los para realizar uma atividade é essencial no dia a dia. Pense em uma situação em que você está apressado e alguém te telefona para passar um número. Nesse momento, é necessário guardar esse número na cabeça por alguns instantes até conseguir anotá-lo, enquanto também conclui a ligação, talvez agradecendo quem te passou a informação. Para que isso aconteça sem erros, entra em ação a memória de trabalho, uma capacidade de curto prazo que mantém informações disponíveis enquanto você executa uma tarefa, frequentemente lidando com outras coisas ao mesmo tempo.
A memória de trabalho tem um papel crucial no aprendizado e nas atividades rotineiras. Ela é como uma ferramenta que nos ajuda a processar e usar informações em tempo real.
Essa memória é indispensável em várias situações. Para resolver problemas matemáticos, por exemplo, precisamos segurar os números na cabeça enquanto fazemos os cálculos. Na leitura, ela nos ajuda a acompanhar a ordem dos eventos e refletir sobre a narrativa. Na escrita, também, pois exige que tenhamos em mente o plano do texto e o que queremos expressar até o final.
Existem dois tipos principais de memória de trabalho:
1. Memória de trabalho verbal (auditiva): está ligada ao som e à informação recebida por meio da fala. Atividades como aprender idiomas ou entender textos também dependem muito dessa memória. Como grande parte do ensino escolar é transmitida oralmente, dificuldades nessa área impactam aprendizado.
2. Memória de trabalho visuoespacial: funciona como um quadro mental, permitindo visualizar e reter imagens ou padrões. Na escola, as crianças a utilizam para cálculos mentais, lembrar sequências, mapas ou formas. Quando essa habilidade é limitada, elas têm dificuldade em guardar e usar informações visuais para avançar em uma tarefa, o que pode travar o progresso em atividades que exigem passos organizados.
Crianças com memória de trabalho comprometida enfrentam desafios claros. Elas podem não conseguir lembrar uma série de instruções, gerar ideias a partir delas e depois expressá-las.
Quando ficar atento?
- Esquecimento do que foi pedido para fazer logo após a solicitação.
- Dificuldade em trazer todos os itens pedidos, precisando voltar para confirmar.
- Necessidade de anotar tudo, pois esquece compromissos ou recados rapidamente.
- Perda do conteúdo estudado de um dia para o outro ou logo após o estudo.
- Problemas para manter o foco em tarefas escolares ou durante aulas.
- Interrupção de atividades ou falas, esquecendo o que estava fazendo ou dizendo.
- Esquecimento de detalhes de um texto durante ou após a leitura.
- Dificuldade em retomar uma tarefa, mesmo após explicações claras dos passos.
- Lentidão em rotinas sequenciais, como tomar banho ou se vestir, distraindo-se no meio do processo.
- Dependência de supervisão adulta para começar e terminar qualquer atividade.
Conclusão: Integrando as Funções Executivas para o Desenvolvimento Infantil
As funções executivas revelam-se pilares essenciais para o sucesso das crianças, influenciando diretamente sua capacidade de enfrentar desafios no ambiente escolar e nas dinâmicas familiares. Ao longo deste artigo, exploramos como habilidades como estabelecer metas, planejar, organizar, iniciar tarefas, focar, perseverar, monitorar a si mesmo, flexibilizar, inibir impulsos, regular emoções e operacionalizar a memória de trabalho são fundamentais para a construção de uma vida autônoma e resiliente. A importância dessas competências vai além da teoria: elas se manifestam no dia a dia, desde a organização da mochila escolar até a persistência para concluir uma tarefa desafiadora.
Identificar precocemente sinais de dificuldades nessas áreas é um passo crucial. Com base nas orientações de Arruda (2014) e Dalgalarrondo (2019), percebemos que crianças que lutam para estruturar objetivos, seguir planos ou controlar impulsos não estão apenas enfrentando obstáculos momentâneos, mas podem estar indicando a necessidade de suporte direcionado. Educar as funções executivas não é uma tarefa meramente técnica; trata-se de um investimento no bem-estar emocional e na capacidade de adaptação das crianças frente às demandas da vida moderna. Quando bem desenvolvidas, essas habilidades abrem portas para um aprendizado mais eficaz, relações interpessoais saudáveis e uma maior tolerância às frustrações inevitáveis do crescimento.
Pais e educadores desempenham um papel central nesse processo. Atentos aos sinais de alerta, podem atuar como facilitadores, introduzindo estratégias simples e consistentes. Dividir tarefas em etapas menores, criar rotinas visíveis ou incentivar a reflexão sobre o próprio desempenho são exemplos práticos que podem fazer a diferença. Assim, mais do que corrigir falhas, o objetivo é fortalecer competências que acompanharão as crianças ao longo de toda a vida, preparando-as para um futuro de desafios e conquistas. Educar para as funções executivas é, em essência, educar para a resiliência e para a autonomia.
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