A pré-alfabetização é uma etapa fundamental no desenvolvimento infantil.
Essa etapa corresponde a idade de 4 e 5 anos, nessa fase as crianças irão desenvolver o entendimento inicial sobre a leitura e escrita, como as habilidades fonológicas (vocabulário, memória fonológica e nomeação), consciência fonológica e princípio alfabético (BRASIL, 2019; SARGIANI, 2022).
Diversas estimulações cognitivas precisam ser trabalhadas para preparar a criança para a aquisição das habilidades para leitura e escrita. Para ajudar nesse processo, separamos as cinco principais habilidades que precisam ser desenvolvidas de acordo com o Developing Early Literacy, do National Early Literacy Panel (NELP, 2009).
O National Early Literacy Panel (NELP), em seu estudo publicado em 2009, desempenhou um papel fundamental ao identificar as habilidades essenciais que contribuem para o desenvolvimento da leitura e escrita, ou seja, as habilidades preditoras. Este estudo foi conduzido com o objetivo de determinar quais práticas e competências são mais eficazes na preparação das crianças para a alfabetização. O painel revisou extensivamente pesquisas anteriores e forneceu uma série de recomendações baseadas em evidências que influenciam a educação infantil de diversos países.
Por Que a Pré-Alfabetização é Importante?
Sargiani (2022) aponta que vários estudos longitudinais demonstram que crianças que desenvolvem as habilidades preditoras na educação infantil têm maior facilidade na leitura e na escrita.
As competências preditivas são fundamentais para preparar a criança para o aprendizado da leitura e da escrita, permitindo que ela se torne uma leitora e escritora competente e hábil.
Quando essas habilidades são trabalhadas de forma eficaz é possível prevenir dificuldades de leitura e escrita que podem aparecer no processo de desenvolvimento da alfabetização.
As 5 Habilidades Fundamentais Para Leitura e Escrita
Como mencionamos, o National Early Literacy Panel (NELP, 2009), apontou como essas habilidades desempenham um papel crucial no desenvolvimento da alfabetização infantil. Abaixo, está a descrição da importância de cada uma delas com base nas conclusões do NELP:
1. Conhecimento do Alfabeto

A familiaridade com o alfabeto é outra habilidade essencial destacada pelo NELP. Isso inclui a capacidade de reconhecer as letras, tanto em ordem, quanto fora de ordem, e associá-las aos seus sons correspondentes.
Necessário elencar a importância dos sons das letras. O conhecimento dos sons das letras envolve a habilidade de reconhecer os fonemas associados a cada letra, o que é fundamental para o processo de decodificação de palavras. Essa habilidade permite que as crianças associem os grafemas os fonemas, o que as ajudará a ler e escrever de maneira mais fluente.
Para Moraes (2013), a consciência fonêmica, que envolve reconhecer e manipular os sons de cada letra, juntamente com o princípio alfabético, constitui a base essencial para o desenvolvimento da compreensão da leitura. Para o autor, a criança precisa ser ensinada a adquirir a consciência dos fonemas.
O conhecimento dos sons das letras é um pré-requisito essencial para a leitura e a escrita e precisa ser ensinada de maneira explícita. Quando as crianças conhecem os sons das letras, elas usam esse conhecimento para decodificar palavras ao ler e formar palavras ao escrever. Isso é uma base fundamental para o desenvolvimento de uma leitura fluente.
Saber o alfabeto é fundamental para entender o princípio alfabético, que se refere à noção de que letras e suas combinações simbolizam sons.
2. Habilidade da Consciência Fonológica
A consciência fonológica diz respeito à habilidade de reconhecer, identificar e manipular os sons que compõem a fala. (BRASIL, 2019).
Ela desempenha um papel essencial no desenvolvimento da leitura e escrita, pois auxilia as crianças a entenderem que as palavras são formadas por sons. Essa competência envolve o reconhecimento e a utilização intencional de aspectos da linguagem oral, como frases, palavras, sílabas, aliterações e rimas (BRASIL, 2019).
Abaixo, iremos listar as competências relacionadas à Consciência Fonológica.
- Consciência de Frases e Palavras
Segundo Adams et al. (2006) o objetivo da consciência de frases e palavras é levar a criança a compreender que a frase é uma sequência de palavras e que transmitem o que pensamos, isto significa que são as palavras que oferecem sentido a frase e, caso, alguma palavra seja retirada ou deslocada a frase mudará o sentido.
No trabalho da consciência fonológica não há necessidade de apresentar a forma escrita das palavras e frases, para ensinar e estimular essa habilidade é viável utilizar objetos concretos que representam cada palavra como bolinhas de massinha e blocos demontar.
- Consciência Silábica
Na consciência silábica a criança será estimulada a compreender que as palavras são formadas por sequências de unidades menores da fala, ou seja, as sílabas (ADAMNS et al., 2006).
Esse tipo de consciência ajuda as crianças a entenderem a estrutura fonológica da língua, facilitando a aprendizagem da leitura e a decodificação das palavras. Por exemplo, ao ouvir a palavra “bala”, uma criança com boa consciência silábica pode perceber que ela é formada por duas sílabas: “ba” e “la”.
A consciência silábica é um pré-requisito para o desenvolvimento da consciência fonêmica, ajudando as crianças a entenderem que as palavras podem ser segmentadas em partes sonoras menores.
- Consciência de Rimas e Aliterações
Na consciência de rimas a criança será estimulada a perceber, identificar e reconhecer palavras que possuem sons semelhantes no final, ou seja, que rimam (ADAMS et al, 2006).
A consciência de rima é uma habilidade inicial que ajuda as crianças a perceberem padrões sonoros na língua, o que facilitará na identificação dos fonemas, que requer maiores habilidades de identificação e manipulação.
A consciência de aliteração refere-se à habilidade de identificar e manipular os sons que iniciam as palavras. A aliteração ocorre quando duas ou mais palavras começam com o mesmo som. Essa consciência é uma habilidade fonológica importante no desenvolvimento da leitura e escrita, pois como ocorre nas rimas, ajudará as crianças a reconhecerem padrões sonoros e a entender como as palavras são formadas.
- Consciência Fonêmica

A consciência fonêmica é a capacidade de identificar e manipular deliberadamente a menor unidade fonética da fala (fonema) (ADAMNS et al., 2006).
Esta competência é um elemento crucial da consciência fonológica, uma vez que está diretamente ligada a decodificação de palavras durante a leitura e à construção de palavras durante a escrita. Ela é o alicerce para o aprimoramento da habilidade de leitura.
Várias pesquisas cientificas sobre a relevância da consciência fonológica são conduzidas globalmente. No sistema de escrita alfabética, o nível de consciência fonológica do aprendiz ao entrar na escola é visto como um forte indicador do sucesso da leitura, ou da possibilidade de não conseguir (ADAMS et al., 2006).
3 – Nomeação Automática Rápida
Capacidade de nomear rapidamente uma sequência de letras, dígitos, cores ou objetos.
A Nomeação Automática Rápida é amplamente reconhecida como uma habilidade preditora significativa da habilidade leitora. Isso ocorre porque o processo de leitura exige a rápida associação entre símbolos visuais (letras e palavras) e seus correspondentes sonoros e semânticos. Quando uma criança é capaz de realizar essa associação de maneira ágil, ela demonstra maior fluência e compreensão no processo de leitura.
4 – Escrita Inicial
Capacidade de redigir letras quando solicitado ou de escrever o próprio nome. O ato de escrever o próprio nome é contato prático com o sistema alfabético, possibilitando a compreensão de que os símbolos gráficos representam sons e que eles podem ser organizados para formar palavras. Vale ressaltar, que além de saber o traçado e nome da letra não será o suficiente, o ponto chave do processo de leitura e escrita é o reconhecimento dos sons que cada letra representa.
No contexto do NEPL, a habilidade de escrever o nome envolve não apenas a memorização das letras que compõem o nome, mas também o reconhecimento do formato das letras, a coordenação motora fina necessária para sua reprodução e o entendimento básico de convenções de escrita, como a orientação da esquerda para a direita.
5 – Memória Fonológica
Habilidade de lembrar informações faladas por um curto período do tempo.
A memória fonológica desempenha um papel fundamental no processo de alfabetização, sendo uma habilidade essencial para o desenvolvimento da leitura e escrita. Como já mencionado, essa habilidade é responsável pela capacidade de armazenar, manipular e recuperar os sons da língua, o que permite às crianças associar fonemas (sons) a grafemas (letras) e formar palavras. Essa habilidade é uma das bases para o reconhecimento e a decodificação de palavras escritas, facilitando o aprendizado da leitura.
Quando essa memória é bem desenvolvida, a criança consegue identificar, por exemplo, as rimas, os sons iniciais ou finais de uma palavra e fazer correspondências entre os fonemas e suas representações gráficas. Isso é crucial, pois a leitura envolve a constante decodificação de símbolos gráficos em sons.
Além disso, a memória fonológica está ligada ao desenvolvimento da fluência na leitura. Crianças com dificuldades nesta área podem ter mais dificuldade para formar palavras e, consequentemente, para entender o significado do texto.
Portanto, investir no desenvolvimento da memória fonológica é essencial não apenas para a aprendizagem da leitura e escrita, mas também para o fortalecimento de outras habilidades cognitivas, como a compreensão textual e a construção de vocabulário. Crianças com uma memória fonológica bem treinada têm mais chances de se tornar leitores proficientes, conseguindo identificar palavras de forma autônoma e entender textos com maior facilidade.
Conclusão
Diante de todas as evidências expostas a pré-alfabetização desempenha um papel fundamental no desenvolvimento cognitivo e linguístico das crianças, sendo a base para a aprendizagem formal da leitura e escrita. Durante essa fase, que ocorre principalmente na educação infantil, as crianças começam a desenvolver as habilidades necessárias para compreender os símbolos da escrita, associando-os aos sons e aos significados, lembrando que a Consciência Fonêmica é a principal habilidade preditora, o cerne da alfabetização. Esse processo é essencial, pois ajuda a construir as competências de leitura e escrita que serão aprimoradas nos anos seguintes.
Nessa fase, também é possível trabalhar aspectos como a memorização, a percepção auditiva e a coordenação motora fina, que são essenciais para o futuro sucesso escolar. Falaremos sobre esses temas em outros artigos aqui no site, fique atento!
Além disso, a pré-alfabetização contribui para o desenvolvimento da autoestima e da confiança da criança. Ao dominar conceitos básicos, ela começa a perceber que é capaz de aprender e resolver problemas, o que a motiva a continuar seu percurso educacional. Lembre-se, quanto mais a criança perceber que está aprendendo, mais ela irá se motivar a continuar a aprender, porém o oposto também acontece, quando a criança tem o sentimento de inferioridade e observa que não está aprendendo, mais desmotivada e sem interesse ela ficará, o que acarretará dificuldades em muitas áreas de sua vida, o que chamamos de “Efeito Matheus”. Por esse e por diversos outros motivos, precisamos estar atentos as principais evidências que mostram como o cérebro aprende.
O momento da pré-alfabetização é, portanto, um período decisivo que prepara a criança para enfrentar os desafios da alfabetização formal, favorecendo uma transição mais tranquila para o ensino fundamental.
Por fim, investir na pré-alfabetização é garantir um alicerce sólido para o futuro acadêmico e social da criança, promovendo a literacia de forma inclusiva e preparando os pequenos para uma vida de aprendizado contínuo.
Referências
ADAMS, M. J; FOORMAN, B. R.; LUNDBERG, I.; BEELER, T. Consciência fonológica em crianças pequenas. Porto Alegre: Artmed, 2006
BRASIL, PNA: política nacional de alfabetização. Brasília: MEC, 2019.
MORAIS, J. Criar leitores: para professores e educadores. São Paulo: Manole, 2013.
NATIONAL EARLY LITERACY PANEL. Developing early literacy: report of the national early literacy panel. A scientific synthesis of early literacy development and implications for intervention. Washington: National Institute for Literacy, 2009.
SARGIANI, R. Alfabetização baseada em evidências: como a ciência cognitiva da leitura contribui para as práticas políticas educacionais de literacia. In SARGIANI, R. Alfabetização baseada em evidências: da ciência à sala de aula. Porto Alegre: Penso, 2022.
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