A alfabetização é um dos processos mais importantes no desenvolvimento infantil. No entanto, existem diferentes abordagens para o ensino da leitura e escrita, cada uma com suas características. Entre os métodos mais conhecidos estão o fônico e o global. Neste artigo, vamos explorar cada um deles, ajudando você a entender suas diferenças, pois vejo diariamente muitos professores e pais sem esse conhecimento essencial para a aprendizagem infantil.
Com base em Seabra e Dias (2011) e em outros autores reconhecidos internacionalmente, decorreremos sobre as diferentes metodologias da alfabetização. Irei deixar nas referências, todas as informações do artigo e livros, caso tenha maior interesse no assunto!
1. Conceitualização dos Métodos de Alfabetização
Existem muitas dúvidas quanto aos diferentes métodos de ensino da leitura e escrita. O primeiro ponto diz respeito a unidade inicial apresentada na alfabetização, se refere-se a parte ou ao todo.
Existem duas maneiras: método sintético e método analítico.
1.1 Método Sintético
O método sintético começa pelas menores unidades linguísticas — como aa letras, os sons, ou as sílabas — para depois combiná-las e formar palavras, frases e textos. Essa metodologia trabalha de maneira estruturada e sequencial, permitindo que a criança construa seu aprendizado com base em etapas claras e cumulativas.
1.2 Método Analítico
No método analítico parte do significado, ou seja, do todo (como palavras ou frases inteiras) para as partes.
No que diz respeito à unidade mínima de análise entre fala e escrita, existem os métodos global, onde a palavra é a unidade mínima; silábico, que considera a sílaba como a unidade mínima; e fônico ou fonético, que tem o fonema como a unidade mínima.
2. Tipos de Estímulos
A diferença entre os dois métodos apresentados (tradicional e multissensorial), refere-se as variedades sensoriais envolvidas.
- Método Tradicional
Durante o ensino o educando utiliza a visão e a audição para o aprendizado.
- Método Multissensorial
Diversas tipos de percepções sensoriais são utilizados como o tátil (materiais de diferentes texturas são utilizados para o educando sentir o formato da letra), o cinestésico (a criança anda sobre o formato da letra), e os movimento articulatórios (deliberadamente o aprendiz observa o posicionamento da boca para articular algum som).
Diante dos diferentes métodos apresentados, diversas combinações podem ser apresentadas para o aluno
3. Os Métodos de Alfabetização
Há muito tempo é discutido qual o melhor método de alfabetização e esse tema é uma das principais discussões na área da educação.
A Figura a seguir, demonstra uma linha do tempo referente a alfabetização no estado de São Paulo

Fonte: Seabra e Dias (2011), p. 310.
Um dos principais debates atualmente refere-se ao método fônico x método global.
3.1 Método Fônico
Esse método teve origem provavelmente na Alemanha, no século XVI.
O método fônico enfatiza a relação entre os sons da fala (fonemas) e as letras. Seus principais objetivos são:
Desenvolver a consciência fonológica
- Auxiliar a criança a perceber, identificar e manipular os sons da língua falada, como sílabas, rimas e fonemas.
- Essa habilidade é crucial para que a criança compreenda que as palavras são compostas por sons individuais que podem ser representados por letras.
Estabelecer a relação entre som e letra (relação grafofonêmica)
- Ensinar que cada som da fala (fonema) está associado a uma letra ou combinação de letras. Por exemplo:
- O som /s/ pode ser representado pelas letras “s”, “ss” ou “ç”.
- Essa correspondência é essencial para que a criança consiga decodificar palavras ao lê-las e codificar palavras ao escrevê-las.
No método fônico é utilizado o ensino explícito e sistemático, ou seja, o ensino é baseado na instrução direta e estruturada, voltado para o aprendizado eficaz e organizado de habilidades e conceitos. Parte do que é mais simples para o mais complexo, principalmente nas habilidades de Consciência Fonológica e ensino dos sons das letras.
Estudos apontam que esse método é eficiente para alfabetizar crianças disléxicas e também para criança que apresentam ou não dificuldades na leitura e escrita (Seabra e Dias, 2011).
3.2 Método Global
Também conhecido como método ideovisual, tem sua origem por volta do século XVII. O foco inicial é a compreensão do significado, o que ajudaria a relacionar as palavras com experiências do cotidiano.
Nessa metodologia, a relação letra-som é aprendida de maneira natural pelas crianças, depois da compreensão completa da palavra estar estabelecida.
Diferente dos métodos sintéticos, que trabalham com letras ou sílabas isoladas (como o método fônico), o método global introduz as palavras e frases em seu contexto mais amplo, com o intuito das crianças compreenderem o significado antes de desconstruir os elementos menores.
4. Método Fônico x Global: Quais Apontam as Melhores Evidências?
O autor José Morais (2013), em seu livro “Criar Leitores Para Professores e Educadores, cita que os métodos fônicos, no plural, pois existem várias maneiras de fazer o aluno chegar a compreensão do princípio alfabético, não são do agrado de muitos professores. Inquestionavelmente, o ensino dessa metodologia é eminentemente sistemático e estruturado.
De acordo com Morais (2013) diversas pesquisas científicas (comoo National Reading Panel) demonstram que os métodos fônicos são os que apresentam melhores resultados e os quais o autor recomenda veementemente.
Dehaene, autor do livro “Neurônios da Leitura: Como a Ciência Explica Nossa Capacidade de Ler” (2012), cita que a aprendizagem pelo método global mobiliza um circuito cerebral inapropriado. De acordo com autor, a mera exposição às palavras escritas, sem aprendizagem explícita das relações grafema-fonema, não é o suficiente para identificar as regularidades da ortografia. Outro aspecto inapropriado, é que o método global não propicia generalizar o processo da leitura para novas palavras, pois não é possível apresentar todas as palavras da língua portuguesa. Dehaene afirma que saber ler, é ser capaz de decodificar diversas palavras novas, e isso, é que de fato, é ser um leitor livre e autônomo.
5. Como Ensinar a Leitura de Maneira Eficaz?

A etapa incontestável para a leitura é a decodificação dos grafemas em fonemas, é a ligação da unidade visual para a unidade auditiva, e outro ponto crucial, é que esse ensino deve ocorrer de modo explícito e com repetição, é necessário explicar diretamente que para cada letra, existe um som (DEHAENE, 2012; MORAIS, 2013).
O método multissensorial também deve ser utilizado, pois tem mostrado eficiência no ensino de crianças disléxicas ou com dificuldades de aprendizagem (SEABRA e DIAS, 2011). Essa metodologia combina diversas modalidades sensoriais, o que favorece a alfabetização, ao conectar diferentes situações visuais (forma/traçado), auditivos (som), táteis e cinestésicos (fonoarticulação).
A pioneira desse método foi Maria Montessori, para ela a criança precisa ser ativa no processo de aprendizagem, e o movimento era um dos elementos mais importantes. Outros autores, defensores do método multissensorial, estimulava os aprendizes a emitir o som, enquanto fazia o traçado da letra.
6. Conclusão
Presenciamos no dia a dia a ineficácia do método global, as avaliações educacionais corroboram esses dados.
Após tantas evidências citadas no artigo, é notório a superioridade do método fônico e multissensorial na alfabetização infantil, no qual se revela pela capacidade de atender às necessidades cognitivas das crianças, tornando o processo de aprendizagem mais significativo e eficaz. Ao integrar o ensino das relações entre sons e letras (método fônico) de maneira explicita e sistemática, com estímulos variados que envolvem múltiplos sentidos (método multissensorial), esses métodos oferecem uma abordagem dinâmica e inclusiva, capaz de engajar diferentes perfis de aprendizes.
Além disso, as evidências científicas e práticas pedagógicas têm demonstrado que essa combinação promove não apenas o desenvolvimento da leitura e escrita, mas também o fortalecimento da autoconfiança e da motivação dos alunos. A experiência multissensorial enriquece o aprendizado ao criar associações mais profundas e duradouras, enquanto o foco no som e na construção fonêmica assegura uma base sólida para habilidades linguísticas.
Portanto, ao considerar as demandas do ensino contemporâneo, especialmente em um contexto onde cada criança apresenta desafios e potenciais únicos, o método fônico e multissensorial se estabelece como uma alternativa indispensável. Essa abordagem, além de contribuir para uma alfabetização efetiva, amplia o horizonte pedagógico ao alinhar ciência, criatividade e respeito pelo ser em desenvolvimento. Adotá-la em larga escala representa não apenas um avanço no ensino, mas também um compromisso com o futuro das nossas crianças.
Referências
DEHAENE, Stanislas. Os neurônios da leitura: como a ciência explica a nossa capacidade de ler. Porto Alegre. Penso. 2012.
MORAIS, J. Criar leitores: para professores e educadores. São Paulo: Manole, 2013.
SEABRA, Alessandra Gotuzo. DIAS, Natália Martins. Métodos de Alfabetização: Delimitação de Procedimentos e Considerações Para uma Prática Eficaz. Rev. Psicopedagogia 2011; 28 (87): 306-20.
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