A alfabetização é uma etapa decisiva na formação das crianças, e os alfabetizadores desempenham um papel fundamental nesse processo. Para alcançar resultados significativos, é indispensável contar com estratégias bem fundamentadas e, claro, ter acesso aos livros certos que ampliem conhecimentos e inspirem práticas inovadoras. Esses recursos não apenas enriquecem a atuação do educador, mas também contribuem para transformar o aprendizado em uma experiência mais eficiente e envolvente.
Neste artigo, apresentamos 3 livros indispensáveis que podem transformar a forma como você ensina e se conecta com seus alunos. Todas essas obras estão de acordo com a Ciência Cognitiva da Leitura e enriquecerão sua prática pedagógica. Certamente, após o contato com esses livros, você refletirá e terá uma nova perspectiva sobre a forma de ensinar. Prepare-se para mergulhar em leituras que não apenas aprimoram suas técnicas, mas também renovam sua paixão por ensinar e guiar as crianças nessa jornada incrível chamada alfabetização.
Vamos explorar essas obras essenciais e descobrir como elas podem fazer a diferença na sua prática?
Alfabetizadores em Evolução: Livros adequados para uma Formação Contínua de Excelência
Para que os educadores, principalmente os alfabetizadores, desempenhem essa função com maestria, é necessário que estejam em constante evolução. A formação contínua é a chave para que os professores aprimorem suas estratégias de ensino e se atualizem sobre as mais recentes pesquisas e práticas pedagógicas. E uma das melhores maneiras de alcançar esse crescimento é por meio da leitura de livros adequados e transformadores.
A formação contínua é um compromisso com o próprio desenvolvimento profissional e com a melhoria da qualidade do ensino. Para os alfabetizadores, isso significa buscar constantemente novas ferramentas, recursos e conhecimentos que possam ser aplicados em sala de aula. O cenário educacional está sempre em mudança, com novas metodologias, avanços na neurociência da aprendizagem e tendências pedagógicas que exigem adaptação. O tempo dedicado à leitura de livros especializados oferece uma oportunidade única de reflexão, ampliação de horizontes e aperfeiçoamento das práticas pedagógicas.
Contudo, nem todos os livros disponíveis no mercado estão embasados nas últimas evidências científicas, especialmente no Brasil, um país que, em muitos aspectos, ficou estagnado na década de 1980. Além disso, muitos apresentam resistência a relatórios que evidenciam práticas essenciais para a aprendizagem da leitura e da escrita. Para saber mais sobre os principais relatórios sobre alfabetização, clique aqui!
Alfabetizadores, busquem sua própria formação para enriquecer o processo de ensino
A formação contínua não deve ser vista como uma obrigação, mas como uma ferramenta poderosa para enriquecer o processo de ensino e, consequentemente, transformar o futuro daquelas crianças que são confiadas a nós.
Esperar que a formação venha de terceiros, como instituições de ensino ou programas governamentais, pode limitar o potencial de um alfabetizador. Visto que vivemos em um país que não investe nas práticas que realmente fazem nossas crianças aprenderem a ler e escrever, e aí sim, tornarem-se pensadores críticos. Há uma frase de Jeanne Chall, psicóloga, escritora e pesquisadora de alfabetização da Harvard Graduate School of Education, que diz: ‘Primeiro se aprende a ler, para depois ler para aprender’. Infelizmente, andamos na contramão da ciência, e, se não sairmos da nossa zona de conforto, acreditando que ‘cada aluno irá aprender no seu tempo’, não mudaremos a realidade deste país. Que a mudança que nossa educação tanto precisa comece por nós!
A busca por essa formação não deve ser vista como uma responsabilidade externa ou uma exigência imposta, mas como um compromisso com a qualidade do ensino e com o desenvolvimento dos alunos. Quando um educador se dedica a aprender de forma autônoma, ele não só se torna um profissional mais qualificado, mas também serve como modelo para os seus alunos, demonstrando que o aprendizado é um processo contínuo, que nunca se encerra.
Foi com essa esperança de poder contribuir como uma gotinha nesse imenso oceano que surgiu este site, para fazer a diferença na sua jornada profissional e, consequentemente, na vida de muitas crianças, que muitas vezes não têm os estímulos tão necessários em suas casas.
Então, ao buscar constantemente o aperfeiçoamento, o alfabetizador se torna mais confiante e capacitado para enfrentar os desafios diários da sala de aula. A aprendizagem de leitura e escrita é complexa e exige um olhar atento e sensível para as necessidades individuais de cada aluno. Um educador bem formado é capaz de identificar as dificuldades de cada criança e ensinar o que a ciência já comprovou como eficaz.
Além disso, um alfabetizador que investe em sua própria formação não só se torna mais eficiente, mas também mais motivado e inspirado a ensinar. Esse entusiasmo é contagiante e pode influenciar diretamente o engajamento e o interesse dos alunos pela aprendizagem.
Vamos aos livros!!
1. Os Neurônios da Leitura: como a ciência explica a nossa capacidade de ler – Stanislas Dehaene.

O livro “Os Neurônios da Leitura”, escrito por Stanislas Dehaene, é uma obra que explora a fascinante conexão entre o cérebro humano e a habilidade de ler. Dehaene, renomado neurocientista francês, apresenta de maneira compreensível a complexidade envolvida na leitura, desafiando a ideia de que a capacidade de ler é algo simples e natural. Dehaene propõe que, embora a leitura pareça ser uma habilidade cotidiana, ela é, na verdade, uma função cerebral altamente sofisticada e complexa que exige diversos processos neurológicos e cognitivos.
A Leitura como Invenção Humana
Dehaene começa explicando que a leitura é uma invenção relativamente recente na história da humanidade, com apenas cerca de 5.000 anos de existência. Nosso cérebro, em sua evolução, nunca foi naturalmente preparado para lidar com palavras escritas, pois a escrita surgiu muito tempo depois de nossas capacidades cognitivas se desenvolverem. Assim, a leitura é uma habilidade adquirida e treinada, que envolve a adaptação do cérebro para lidar com símbolos visuais. Ele enfatiza que aprender não é algo natural, mas algo que deve ser aprendido.
O Cérebro e a Decodificação de Palavras
O cérebro humano é capaz de decodificar palavras escritas graças à ativação de uma rede neural específica. O autor descreve como o sistema visual cerebral processa as letras e os símbolos, convertendo-os em sons e significados. Esse processo é conhecido como “decodificação”, e é essencial para a leitura fluente. Para explicar como o cérebro se adapta a essa nova função, Dehaene utiliza o conceito de “neuroplasticidade”, que é a capacidade do cérebro de se reorganizar e formar novas conexões à medida que aprende novas tarefas, como a leitura.
As Áreas Cerebrais Envolvidas
Dehaene detalha as regiões específicas envolvidas nesse processo, para o pesquisador é no córtex, que localizam-se os neurônios mais capacitados para a leitura. Em particular, nos seres humanos, a área que é ativada é o córtex occipitotemporal do lado esquerdo.
Dehaene também discute como a aprendizagem da leitura pode ser afetada por diversos fatores, como o ambiente e a forma de ensino. Ele enfatiza a importância de práticas de ensino que considerem a forma como o cérebro processa a escrita, e como métodos inadequados podem interferir nesse processo, prejudicando a fluência da leitura. Olhem só o trecho de uma entrevista que ele concedeu ao Instituto Ayrton Senna:

Clique aqui para a entrevista completa!
Dislexia
Em uma seção importante do livro, Dehaene aborda as dificuldades de leitura, como a dislexia. A dislexia envolve dificuldades na decodificação de palavras e na associação de sons com letras. O autor explica que, embora os disléxicos tenham cérebros saudáveis, a rede neural necessária para processar a leitura pode ser menos eficiente ou estar mal formada, segundo o autor o centro da dislexia é “uma perturbação fonológica”. Ele propõe que a neurociência tem avançado na compreensão desses distúrbios, sugerindo que intervenções mais eficazes podem ser desenvolvidas à luz dessa pesquisa, e quais seriam essas intervenções? Dehane aponta que o ensino explícito da consciência fonêmica é uma estratégia eficaz de reeducação.
Podemos concluir que o livro “Os Neurônios da Leitura” é um livro esclarecedor que conecta a neurociência e a psicologia cognitiva com a prática cotidiana da leitura. Dehaene oferece uma visão detalhada sobre como o cérebro processa a leitura e como essa habilidade é adquirida e desenvolvida. Toda a obra de Dehaene valida os diversos relatórios internacionais como NRP e o NELP e os brasileiros como o Alfabetização Infantil: Os Novos Caminhos, Aprendizagem Infantil: Uma Abordagem da Neurociência, Economia e Psicologia Cognitiva e o RENABE (Rede Nacional de Alfabetização Baseada em Evidências, 2020).
Caso tenha interesse sobre como o cérebro aprende a ler, esse artigo que irei indicar apresenta um resumo sobre o assunto, clique aqui!
2 – Criar Leitores para professores e educadores, José Morais

Mais um dos livros essenciais para a leitura. Particularmente, adoro este livro. José Morais aborda o assunto de maneira clara e apresenta práticas eficientes para formar leitores.
O autor destaca que a capacidade de leitura é fundamental para a aquisição do conhecimento, e que os professores desempenham um papel essencial em incentivar e formar leitores críticos e competentes.
Morais analisa os desafios da leitura e os obstáculos que as crianças enfrentam, apontando como a compreensão de processos cognitivos e linguísticos pode ajudar os educadores a promoverem um ambiente mais favorável à aprendizagem da leitura. O autor propõe práticas pedagógicas baseadas em um conhecimento profundo sobre como a leitura e a escrita se desenvolvem, enfatizando a importância de uma intervenção pedagógica adequada e eficaz, tanto na escola quanto fora dela.
Um ponto importante do livro é a discussão sobre a motivação para a leitura. Morais argumenta que é necessário criar condições para que as crianças se sintam motivadas a ler, o que envolve tanto a oferta de materiais atraentes quanto o desenvolvimento de atitudes que valorizem a leitura no cotidiano da criança.
Além disso, o autor explora a ideia de que o princípio alfabético e a consciência fonêmica são fundamentais para a leitura, mas também enfatiza que ela envolve um processo complexo de compreensão, análise crítica e interação com o texto. Ele sugere que os professores devem ajudar as crianças a se tornarem leitoras autônomas, capazes de interpretar diferentes tipos de textos e utilizar a leitura para se situarem no mundo.
O livro é uma reflexão teórica e prática sobre a alfabetização e o desenvolvimento da leitura, com um foco específico no papel dos professores e educadores em criar leitores para a vida.
3 – Consciência Fonológica em Crianças Pequenas, Marilyn Jager Adams.

Se você está em busca de um livro com diversas atividades práticas para desenvolver a consciência fonológica de seus alunos ou filhos, este é o que eu uso e indico!
O livro Consciência Fonológica em Crianças Pequenas, de Marilyn Jager Adams, explora a importância da consciência fonológica no desenvolvimento da leitura e escrita de crianças pequenas. A autora defende que a habilidade de perceber e manipular sons na linguagem falada é um pré-requisito essencial para a alfabetização, uma vez que ela ajuda as crianças a compreenderem a relação entre letras e sons.
Adams detalha como a consciência fonológica se desenvolve, começando pelas habilidades mais simples, como as rimas, até as mais complexas, como a segmentação e a manipulação de fonemas. Ela também discute a relevância de um ambiente alfabetizador rico, que ofereça atividades que incentivem a exploração dos sons da língua, como a leitura em voz alta.
A autora explora diversas ferramentas para apoiar o desenvolvimento da consciência fonológica, sugerindo estratégias práticas para educadores e pais. Ela destaca a importância de jogos e atividades interativas que envolvem rimas, aliterações e a identificação de sons iniciais, além de atividades de segmentação de palavras e sílabas.
Adams ainda aborda a ligação entre a consciência fonológica e o sucesso no aprendizado da leitura, explicando como a habilidade de distinguir e manipular sons se traduz em maior facilidade para a decodificação de palavras. A autora enfatiza a importância de se intervir precocemente para desenvolver essas habilidades, já que dificuldades fonológicas precoces podem levar a dificuldades posteriores no aprendizado da leitura.
Em suma, o livro oferece uma compreensão aprofundada do papel da consciência fonológica no processo de alfabetização, apresentando não apenas a teoria, mas também práticas pedagógicas que podem ser implementadas desde os primeiros anos de vida para promover o desenvolvimento linguístico das crianças.
Conclusão
Ler esses livros e outros materiais especializados ajuda os alfabetizadores a refletir sobre sua prática, desafiando velhos paradigmas e introduzindo novas práticas. A cada leitura, o educador não apenas se atualiza, mas também ganha novas ferramentas para lidar com a diversidade de alunos em sala de aula.
Além disso, a leitura contínua fortalece a confiança do educador, tornando-o mais preparado para lidar com os desafios do cotidiano escolar, sentindo-se seguro na sua prática diária. Ao incorporar novas metodologias e perspectivas, o alfabetizador se torna mais flexível, criativo e motivado a melhorar constantemente sua prática.
Lembre-se, a formação do alfabetizador é uma jornada contínua, e cada passo dado em direção ao conhecimento e ao aperfeiçoamento representa uma contribuição valiosa para a educação das futuras gerações. Ao buscar sua própria formação, o alfabetizador não só enriquece o processo de ensino, mas também exerce um papel transformador na vida de seus alunos. Portanto, nunca espere que a formação venha pronta ou de terceiros: ela deve ser um compromisso pessoal, um investimento contínuo em sua prática e na qualidade do ensino que você oferece.
Adorei escrever este artigo! Esses livros fazem parte da minha biblioteca, e recorro frequentemente à leitura dessas obras, que são fundamentais e baseadas em evidências, não em suposições. Você já conhecia esses livros? Ficarei muito grata se puder compartilhar sua opinião nos comentários! Grande abraço!
Referências
ADAMS et al. Consciência fonológica em crianças pequenas. Porto Alegre: Artmed, 2006.
DEHAENE, Stanislas. Os neurônios da leitura: como a ciência explica a nossa capacidade de ler. Porto Alegre. Penso. 2012.
MORAIS, J. Criar leitores: para professores e educadores. São Paulo: Manole, 2013.
SENNA, Instituto Ayrton. Entrevista com Stanislas Dehaene: a neurociência da aprendizagem. 2022. Disponível em: https://institutoayrtonsenna.org.br/app/uploads/2022/10/instituto-ayrton-senna-entrevista-stanislas-dehaene-revista-quanta.pdf. Acesso em: 02 jan. 2025.