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Transtorno do Processamento Auditivo Central (TPAC): Como Afeta a Aprendizagem, Identificação e Intervenção

6 e 7 anos (Alfabetização)

O Transtorno do Processamento Auditivo Central (TPAC) é uma condição que interfere na capacidade do indivíduo de processar informações auditivas, apesar de uma audição dentro dos padrões. Essa dificuldade pode gerar impactos significativos no desenvolvimento acadêmico, especialmente em atividades relacionadas à leitura, escrita e compreensão oral. Neste artigo, exploramos o que é o processamento auditivo central, as habilidades auditivas, como o TPAC afeta a aprendizagem, quais são os principais sinais para identificação e as estratégias de intervenção.

O que é Processamento Auditivo Central?

O PAC refere-se à capacidade e eficácia com que o sistema nervoso auditivo central processa as informações sonoras (ASHA, 2005).É a forma como o cérebro interpreta os sons que são ouvidos, desde o momento em que o ouvido detecta as ondas sonoras até a sua compreensão e organização. Esse processo envolve várias áreas do sistema nervoso central.

Essa capacidade não se limita apenas à percepção do som, mas também ao seu significado, como a identificação de palavras, compreensão de frases e a capacidade de distinguir entre sons diferentes, como música e fala.

O PAC é fundamental para a comunicação, pois permite que uma pessoa compreenda e responda ao que está sendo dito, mesmo em ambientes ruidosos.

As Habilidades Auditivas Centrais (Mendes-Civitella et al., 2020)

TPAC

Localização e lateralização sonora

A localização e lateralização sonora referem-se à capacidade de identificar de onde os sons estão vindo, ou seja, a habilidade de perceber a direção e a distância de uma fonte sonora no ambiente.

Essas habilidades são fundamentais para a orientação espacial, permitindo que uma pessoa identifique a direção de sons importantes, como a fala de outra pessoa ou alertas sonoros

Discriminação Auditiva

A discriminação auditiva é a habilidade de distinguir diferentes sons, como os fonemas, diferentes tons e ritmos, possibilitando a percepção e a diferenciação de estímulos auditivos. Essa habilidade é fundamental para o reconhecimento de palavras e a compreensão da fala, especialmente em ambientes com ruídos de fundo. A discriminação auditiva também é importante para a leitura, escrita e desenvolvimento da linguagem, já que permite à criança identificar variações sonoras, como a diferença entre sons semelhantes, e associá-los a significados. Dificuldades na discriminação auditiva podem levar a problemas na comunicação e no aprendizado, dificultando a compreensão de palavras e a aquisição de habilidades linguísticas.

Aspectos Temporais da Audição

Os aspectos temporais da audição referem-se à capacidade do sistema auditivo de perceber e processar as variações no tempo de estímulos sonoros. Isso inclui a percepção de ritmos, a capacidade de distinguir intervalos de tempo entre sons e a identificação da duração e a frequência com que os sons ocorrem. Esses aspectos são essenciais para a compreensão da fala, principalmente para distinguir entre sons rápidos e lentos, como a diferença entre sílabas em palavras ou variações em uma conversa. Problemas nos aspectos temporais da audição podem afetar a capacidade de entender a fala em situações com sons rápidos ou sequenciais, impactando o desenvolvimento da linguagem e a comunicação eficaz.

Figura-Fundo

A habilidade de figura-fundo da audição refere-se à capacidade de distinguir um som (figura) de outros sons de fundo, como em ambientes ruidosos. Essa habilidade permite que uma pessoa foque em uma fonte sonora específica, como a voz de uma pessoa, mesmo quando outros sons estão presentes ao redor. A percepção de figura-fundo é essencial para a compreensão da fala em ambientes com distrações sonoras, como em salas de aula ou festas. Dificuldades nessa habilidade podem levar a problemas de comunicação e aprendizagem, pois a pessoa pode ter dificuldade em ouvir e entender o que está sendo dito quando há ruídos ou outras fontes sonoras competindo pela atenção.

Fechamento-auditivo

O fechamento auditivo é a habilidade do sistema auditivo de completar informações incompletas ou fragmentadas nos estímulos sonoros, permitindo que a pessoa compreenda o som ou a palavra, mesmo que partes dele estejam faltando ou sejam ambíguas. Esse processo é fundamental para a compreensão da fala em ambientes ruidosos ou quando há interferências. Por exemplo, ao ouvir uma palavra parcialmente pronunciada ou distorcida, o cérebro pode preencher as lacunas e fazer sentido do que está sendo dito. Dificuldades no fechamento auditivo podem levar a problemas na compreensão verbal, especialmente em situações onde o som está incompleto ou não é perfeitamente claro.

Aspectos binaurais da audição

Os aspectos binaurais da audição referem-se à capacidade de processar sons com ambos os ouvidos simultaneamente, o que permite localizar a direção de um som e distinguir sua distância. Essa habilidade é fundamental para a percepção espacial e a orientação no ambiente. O cérebro utiliza pistas binaurais, como a diferença de intensidade e o tempo que o som leva para chegar a cada ouvido, para identificar de onde o som está vindo. A audição binaural também melhora a compreensão da fala em ambientes ruidosos, pois permite filtrar sons de fundo. Problemas nos aspectos binaurais da audição podem dificultar a localização de sons e a compreensão verbal em ambientes complexos.

O que é o Transtorno do Processamento Auditivo Central (TPAC)?

O TPAC é caracterizado como um déficit em um ou mais processos auditivos centrais, apresentando uma ou mais dificuldades em habilidades como localização e lateralização de sons, discriminação, reconhecimento auditivo e aspectos temporais da audição, que incluem resolução, mascaramento, integração e ordem temporal (MENDES-CIVITELLA ET AL., 2020).

É um transtorno neurológico que compromete a habilidade de interpretar sons, mesmo quando a audição periférica é normal. Ele ocorre devido a uma disfunção nas vias auditivas centrais, afetando aspectos das habilidades auditivas.

Pessoas com TPAC podem ouvir os sons claramente, mas têm dificuldade em compreender o significado, especialmente em ambientes ruidosos ou quando recebem informações auditivas complexas. Por exemplo, em uma sala de aula cheia de vozes e sons, a criança pode não entender uma explicação verbal dada pelo professor. Em eventos sociais, ela pode ter dificuldade para acompanhar uma conversa em grupo, já que o excesso de estímulos sonoros interfere na sua capacidade de focar no que está sendo dito. Essa condição frequentemente leva a desafios na aprendizagem, prejudicando a aquisição de habilidades linguísticas.

Principais sinais do TPAC na aprendizagem

TPAC

A identificação precoce do TPAC é essencial para minimizar os impactos na vida acadêmica. Entre os principais sinais estão:

Dificuldade em seguir instruções verbais: crianças com TPAC têm problemas para lembrar e executar tarefas que dependem exclusivamente de orientações auditivas.

Problemas na leitura e escrita: a dificuldade de discriminar sons semelhantes pode afetar a aquisição de habilidades fonéticas, prejudicando o progresso em leitura e ortografia.

Compreensão reduzida em ambientes barulhentos: ambientes escolares com ruídos constantes representam um desafio significativo.

Dificuldade em distinguir palavras semelhantes: confusão entre palavras com sons parecidos, como “pato” e “gato”.

Fadiga auditiva: o esforço constante para compreender sons pode levar a cansaço e baixa atenção durante as aulas.

Quando devo buscar ajuda profissional?

7 anos é a idade mínima para o diagnóstico do TPAC, porém, se observado por pais e professores que o desenvolvimento da linguagem na criança não se apresenta de maneira esperada, é imprescindível aos pais levá-lo ao fonoaudiólogo ou aos professores encaminharem para avaliação.

Diagnóstico do TPAC: Como é feito?

O diagnóstico do TPAC é realizado por profissionais especializados, como fonoaudiólogos e por uma equipe multidisciplinar.

O fonoaudiólogo aplica testes específicos que avaliam a habilidade processamento das informações auditivas. Esses testes comportamentais para o PAC podem ser verbais ou não-verbais.

É fundamenta que diagnóstico seja precoce para a implementação de intervenções eficazes, evitando que o TPAC comprometa significativamente o desenvolvimento escolar.

Como o TPAC afeta a aprendizagem?

O TPAC impacta diretamente a forma como a criança lida com atividades acadêmicas que exigem processamento auditivo. Alguns exemplos incluem:

  • Leitura e decodificação de palavras: a dificuldade em associar sons a letras prejudica o aprendizado da leitura.
  • Compreensão de textos: problemas em compreender instruções verbais ou leituras em voz alta afetam a interpretação de textos.
  • Matemática: a resolução de problemas que dependem de explicações auditivas é um desafio.
  • Interações sociais: dificuldades em entender conversas podem levar ao isolamento social.

Esses desafios podem gerar frustração, baixa autoestima e desmotivação escolar, tornando crucial a intervenção adequada. Vou deixar uma excelente matéria sobre TPAC, clique aqui!

Intervenções e estratégias para o TPAC

O fonoaudiólogo é profissional habilitado para diagnosticar e intervir no TPAC.

Intervenções fonoaudiológicas

A intervenção deve ser realizada com o objetivo de melhorar o déficit auditivo e minimizar o impacto das mudanças nas atividades diárias, além de promover a participação do paciente e aumentar sua autonomia em diferentes contextos educacionais, sociais, ocupacionais e familiares. O tratamento abrange o aprimoramento da percepção auditiva e a melhoria da comunicação por meio do atendimento clínico ao paciente. É fundamental que os princípios da intervenção sejam aplicados também na escola ou no ambiente de trabalho, visando a generalização das habilidades adquiridas. A proposta é implementar abordagens que promovam o bem-estar do indivíduo e da família em todas as áreas de suas vidas. Quanto às adequações físicas, podemos mencionar a colaboração com escolas, locais de trabalho e residências, focando na qualidade do ambiente acústico e em intervenções para diminuir o ruído competitivo, a reverberação e a distância, além do uso de sistemas de audição auxiliares, tanto coletivos quanto individuais (MENDES-CIVITELLA ET AL., 2020).

Adaptações no ambiente escolar

Redução de ruídos: uso de salas acústicas para que sons externo possam ser evitados.

Instruções visuais: complementar explicações verbais com recursos visuais.

Divisão de tarefas: dividir atividades complexas em etapas menores e mais gerenciáveis.

A importância do suporte familiar e escolar

Para garantir o sucesso das intervenções, é fundamental que os profissionais da saúde, família e os educadores trabalhem juntos. Os pais precisam estar alertas aos sinais do TPAC e buscar apoio profissional sempre que observarem dificuldades persistentes na aprendizagem. Já os professores podem criar um ambiente inclusivo e usar métodos de ensino diferenciados para atender às necessidades dos alunos com TPAC. Para saber os métodos mais eficazes de acordo com a Ciência Cognitiva da Leitura, clique aqui!

Conclusão

O Transtorno do Processamento Auditivo Central (TPAC) é uma condição que pode afetar profundamente a aprendizagem e o desenvolvimento de habilidades linguísticas. Contudo, com diagnóstico precoce, intervenções adequadas e suporte familiar e escolar, é possível superar os desafios e promover o sucesso acadêmico e social da criança. A conscientização sobre o TPAC é essencial para garantir que nenhuma criança fique para trás em sua jornada de aprendizagem.

Como é importante que nós, professores e pais, estejamos atentos aos primeiros sinais do TPAC e encaminhemos esse aluno ou, como pais, o levemos ao fonoaudiólogo. Se observar alguns desses sinais, não demore em procurar ajuda, pois o diagnóstico precoce é fundamental.

Querido leitor, pais ou professores, comentem aqui se já observaram ou observam crianças com esses sinais! Grande abraço.

Referências

American Speech-Language-Hearing Association (ASHA). (2005). Central Auditory Processing Disorders: The Role of the Audiologist. ASHA Guidelines.

MENDES-CIVITELLA, Marcia; COMERLATTO JUNIOR, Ademir; FERREIRA, Maria Inês Costa; GUEDES, Mariana Cardoso; BALEN, Sheila Andreoli; FROTA, Silvana. Guia de Orientação: Avaliação e Intervenção no Processamento Auditivo Central. Conselho Federal de Fonoaudiologia.1. ed. Agosto de 2020.

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