Alfabetização no Brasil INAF

Alfabetização no Brasil: 29% ainda são analfabetos funcionais

6 e 7 anos (Alfabetização)

O analfabetismo funcional é um obstáculo significativo para o progresso da alfabetização no Brasil. Segundo o Indicador de Alfabetismo Funcional (INAF) de 2024, cerca de 29% da população brasileira entre 15 e 64 anos enfrenta dificuldades para compreender textos simples, realizar cálculos básicos e utilizar a leitura e escrita no cotidiano. Esse percentual, equivalente a quase um terço do país, reflete uma estagnação que persiste desde 2018, evidenciando a necessidade urgente de políticas públicas que promovam a alfabetização no Brasil.

Iremos compreender os principais dados do estudo, as diferenças regionais e a importância da alfabetização baseada em evidências cientificas.

O Que é Analfabetismo Funcional?1

Definições e Impactos

O analfabeto funcional consegue reconhecer palavras isoladas e ler frases simples, mas enfrenta dificuldades para entender textos mais longos ou estruturas complexas. Sua compreensão numérica é limitada, geralmente restrita a dígitos conhecidos. Essa categoria engloba tanto analfabetos quanto indivíduos com alfabetização rudimentar. Essa limitação compromete a participação plena na sociedade, afetando o exercício da cidadania, o acesso ao mercado de trabalho e até tarefas diárias, como entender um anúncio ou preencher um formulário. No Brasil, 29% da população entre 15 e 64 anos está nessa situação, um número que desafia os esforços de alfabetização no Brasil e permanece inalterado há seis anos, segundo o Inaf 2024.

Por outro lado, uma  pessoa alfabetizada em nível elementar possui habilidades um pouco mais desenvolvidas, mas ainda restritas. Ela consegue localizar informações em textos de tamanho médio e resolver problemas matemáticos simples, como adição, subtração, multiplicação e divisão, lidando com números até a casa dos milhares.

Já os alfabetizados em nível consolidado dividem-se em dois grupos: intermediário e proficiente, conforme a escala do Inaf.

No nível intermediário, o indivíduo pode extrair informações de diferentes tipos de textos e resolver problemas matemáticos que envolvam porcentagens e proporções.

Quem atinge o nível proficiente, além de dominar as competências do nível intermediário, é capaz de produzir textos mais elaborados, interpretar gráficos e tabelas complexos e solucionar problemas em diversos contextos, envolvendo múltiplas etapas.

Alfabetização no Brasil INAF

Metodologia do Inaf

A pesquisa, conduzida entre dezembro de 2024 e fevereiro de 2025, entrevistou 2.554 pessoas em todas as regiões do Brasil. Os participantes realizaram testes que avaliam habilidades de leitura, escrita e matemática em situações do cotidiano, com uma margem de erro de 2 a 3 pontos percentuais.

Estagnação do Analfabetismo Funcional

Um Cenário Inalterado Desde 2018

O Brasil não avançou na redução do analfabetismo funcional nos últimos seis anos, um reflexo das dificuldades enfrentadas pela alfabetização no Brasil. Em 2018, 29% da população entre 15 e 64 anos já era classificada como analfabeta funcional, e esse índice permaneceu inalterado em 2024.

Impactos no Mercado de Trabalho

O analfabetismo funcional também afeta a vida profissional. Cerca de 27% dos trabalhadores brasileiros são analfabetos funcionais, enquanto 34% atingem o nível elementar e apenas 40% possuem níveis consolidados de alfabetismo. Essa realidade compromete a produtividade e reforça a exclusão social, já que muitos trabalhadores enfrentam dificuldades em tarefas que exigem leitura e interpretação, um desafio para a alfabetização no Brasil.

Analfabetismo por Região

Diferenças Regionais no Brasil

O analfabetismo funcional no Brasil apresenta variações regionais que refletem desigualdades estruturais no acesso à educação. A pesquisa abrangeu todas as cinco regiões do país, indicando que os 29% de analfabetos funcionais estão distribuídos de forma desigual. Regiões como o Nordeste e o Norte, historicamente marcadas por menores índices de escolaridade e infraestrutura educacional limitada, tendem a apresentar taxas mais altas de analfabetismo funcional em comparação com o Sudeste e o Sul. Essas disparidades regionais desafiam os esforços de alfabetização no Brasil, exigindo políticas específicas para cada contexto, principalmente aquelas baseadas em evidências científicas.

Fatores que Contribuem para as Disparidades

Fatores como a urbanização, a qualidade das escolas e o acesso à Educação de Jovens e Adultos (EJA) influenciam os índices de analfabetismo funcional por região. Em áreas rurais, especialmente no Norte e Nordeste, a distância até as escolas e a falta de professores qualificados agravam o problema. Já em centros urbanos do Sudeste, o maior acesso à educação não elimina o analfabetismo funcional, mas reduz sua prevalência. Para avançar na alfabetização no Brasil, é importante investir em infraestrutura educacional e programas adaptados às necessidades regionais.

Caminhos para Superar o Analfabetismo Funcional

Alfabetização no Brasil INAF

Investimento em Educação Baseado Em Evidências

Um aspecto essencial é a adoção de práticas de ensino baseadas em evidências científicas, que utilizam métodos comprovados para melhorar a aprendizagem. Recursos como os disponíveis nesse site destacam a importância de estratégias validadas por estudos, como o ensino estruturado de leitura e escrita, para combater o analfabetismo funcional e fortalecer a alfabetização no Brasil.

Conclusão

O analfabetismo funcional, que atinge 29% da população brasileira entre 15 e 64 anos, só será superado com uma revolução na alfabetização no Brasil, ancorada em educação baseada em evidências científicas. Como destaca Stanislas Dehaene em Neurônios da Leitura (2012)2, compreender como o cérebro aprende é fundamental para ensinar leitura e escrita de forma eficaz.

As faculdades de pedagogia precisam incorporar esse conhecimento, formando professores que dominem métodos comprovados, como a instrução fônica, que promove a decodificação e a fluência na leitura. Universidades devem atualizar seus currículos com as últimas pesquisas, que apontam para abordagens inclusivas capazes de atender a todas as crianças, independentemente de suas condições socioeconômicas. Além disso, professores alfabetizadores também podem buscar formação continuada por iniciativa própria, não esperando por diretrizes externas, para dominar as melhores práticas de alfabetização, pois isso pode não acontecer ou demorar décadas.

Não podemos esquecer que processo de alfabetização formal começa na educação infantil, estimulando habilidades preditoras, como consciência fonológica e vocabulário, que preparam as crianças para a leitura e escrita. Somente com professores bem preparados e um sistema educacional alinhado às evidências científicas será possível transformar a realidade do analfabetismo funcional, construindo uma alfabetização no Brasil mais equitativa e eficaz.

Escrevi dois artigos sobre:  Alfabetização – Avanços Científicos e Relatórios para o Ensino em 2025 (Parte 1 e Parte 2). Vale muito a pena ler ambos e conhecer os principais documentos que sustentam a alfabetização baseada em evidências. Levei dias para escrever esses textos, pois reúnem informações valiosas sobre como, de fato, as crianças aprendem a ler e escrever.

Referências

  1. INSTITUTO PAULO MONTENEGRO. Indicador de Alfabetismo Funcional (Inaf). São Paulo, 2025. ↩︎
  2. DEHAENE, Stanislas. Os neurônios da leitura: como a ciência explica a nossa capacidade de ler. Porto Alegre. Penso. 2012. ↩︎

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