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Ansiedade Infantil: Principais Sinais e Orientações Essenciais

6 e 7 anos (Alfabetização)

A infância é um período repleto de aprendizagens e descobertas. No entanto, nem sempre esse processo ocorre de forma tranquila. A ansiedade infantil é uma realidade que tem preocupado pais, educadores e profissionais da saúde mental, pois pode interferir no bem-estar e no desenvolvimento emocional das crianças. Diferentemente do que muitos imaginam, a ansiedade não é exclusiva dos adultos. Crianças também enfrentam medos intensos, preocupações excessivas e sintomas físicos que podem passar despercebidos ou ser confundidos com comportamentos típicos da idade.

Identificar os sinais da ansiedade infantil desde cedo é essencial para garantir que a criança receba o suporte necessário e possa desenvolver uma vida emocional saudável. Neste artigo, exploraremos o que é a ansiedade infantil, seus principais sinais, as possíveis causas e estratégias práticas para auxiliar o desenvolvimento emocional das crianças. Com informação e atenção, é possível transformar desafios em oportunidades de crescimento.

O Que é Ansiedade Infantil?

Segundo a Dra. Josephine Elia1, professora da Universidade Thomas Jefferson, certo grau de ansiedade faz parte do desenvolvimento natural da criança. De acordo com a autora, é comum que a maioria dos pequenos demonstre receio ao se afastar das mães, especialmente em locais desconhecidos.

Por volta dos 3 aos 4 anos, é frequente o medo da escuridão, de criaturas imaginárias, como monstros, e de animais como insetos e aranhas. Crianças mais reservadas tendem a reagir a novas situações com hesitação ou recuo. Já entre as crianças mais velhas, os medos costumam estar relacionados a agressões ou à ideia de morte.

Na pré-adolescência e adolescência, é comum sentir nervosismo ao falar em público, como ao apresentar um livro diante dos colegas.

Essas reações não devem ser vistas como sinais de problemas graves. No entanto, se a ansiedade se intensificar a ponto de interferir significativamente no dia a dia, causar sofrimento excessivo ou levar a evitações extremas, pode ser necessário avaliar a possibilidade de um transtorno de ansiedade.

De acordo com o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (APA, 2023, p. 215)2:

os transtornos de ansiedade incluem transtornos que compartilham características de medo e ansiedade excessivos e perturbações comportamentais relacionados. Medo é a resposta emocional a ameaça iminente real ou percebida, enquanto ansiedade é a antecipação de ameaça futura.”

Nas crianças, a ansiedade infantil refere-se a um estado de preocupação ou medo excessivo que vai além do esperado para a idade ou situação da criança. Como vimos, é comum que crianças sintam medo de coisas como o escuro, monstros ou a separação dos pais em determinados momentos. Esses sentimentos geralmente diminuem com o tempo e com o apoio adequado. No entanto, quando a ansiedade se torna persistente, intensa e interfere nas atividades diárias — como ir à escola, brincar ou dormir —, pode ser um sinal de que algo mais sério está acontecendo.

A ansiedade infantil pode se manifestar de diferentes formas, como agorafobia (adolescentes), transtorno de ansiedade generalizada, fobias específica, transtorno de ansiedade de separação, transtorno de ansiedade social e mutismo seletivo (APA, 2023; ELIA, 2023).

Os transtornos mais comuns em crianças e adolescentes são o transtorno de ansiedade de separação, com prevalência em torno de 4%, o transtorno de ansiedade generalizada (2,7 a 4,6%) e as fobias específicas (2,4 a 3,3%). A prevalência de fobia social fica em torno de 1%, e a de transtorno de pânico, em 0,6% (ASBAHR, 2004).3

Escreverei um artigo detalhando cada um desses transtornos na infância!

Sinais da Ansiedade Infantil: Como Reconhecê-los?

Um dos maiores desafios para identificar a ansiedade infantil é que as crianças nem sempre conseguem expressar o que sentem. Diferentemente dos adultos, elas podem não ter palavras para descrever a angústia ou o medo (ASBAHR, 2004).

Apesar de os procedimentos para diagnosticar transtornos ansiosos em crianças serem parecidos com os aplicados a adultos, a análise e o manejo da ansiedade patológica na infância possuem peculiaridades específicas (ASBAHR, 2004).

De acordo com a médica Gabriela Crenzel4, presidente da Sociedade de Pediatria do Estado do Rio de Janeiro,  quanto mais jovem for a criança, maior a chance de a ansiedade se manifestar por meio de agitação psicomotora, mudanças no comportamento, choro frequente, alterações no sono e no apetite, birras e irritabilidade.

Já em crianças mais velhas, os sintomas tendem a se assemelhar aos observados em adultos, incluindo preocupação excessiva, tensão muscular, inquietação, sudorese, batimentos cardíacos acelerados, tremores, sensação de desmaio, nervosismo subjetivo e dificuldade de concentração.

Uma orientação importante é prestar atenção às reações da criança no dia a dia. A médica explica que é fundamental observar a intensidade, a duração e a frequência dessas reações, bem como os impactos que podem estar causando. Pais e responsáveis costumam conhecer os padrões de comportamento dos filhos e o tempo que levam para se acalmarem. Um sinal de alerta surge quando a criança passa a demandar cada vez mais tempo, apoio e flexibilidade para se recuperar de episódios de ansiedade.

No entanto, essas manifestações nem sempre indicam um problema clínico. É essencial considerar o contexto em que a criança está inserida antes de tirar conclusões. A suspeita de um transtorno de ansiedade surge quando os sintomas se tornam recorrentes, causando sofrimento prolongado e prejuízos significativos à rotina, de forma desproporcional à realidade.

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Aqui estão alguns  indicadores a serem observados:

Sintomas Físicos Inexplicáveis


Dores de cabeça, de barriga ou náuseas frequentes, sem uma causa médica aparente, podem ser reflexos da ansiedade infantil. Esses sintomas costumam surgir antes de situações estressantes, como ir à escola ou ficar longe dos pais.

    Mudanças no Comportamento

    Crianças ansiosas podem se tornar mais irritadas, chorosas ou retraídas. Algumas evitam atividades que antes gostavam, como brincar com amigos, por medo de falhar ou de serem julgadas.

      Dificuldade de Concentração

      A ansiedade infantil pode afetar a capacidade de foco, levando a um desempenho escolar abaixo do esperado. A criança pode parecer “distraída” ou “sonhadora”, mas, na verdade, está lidando com pensamentos preocupantes.

        Problemas com o Sono e Apetite

        Pesadelos, dificuldade para dormir ou acordar frequentemente durante a noite são sinais comuns de ansiedade infantil. Muitas vezes, a mente da criança permanece ativa, mesmo quando ela precisa descansar. Outro indicativo é a mudança brusca no apetite: crianças que antes se alimentavam bem podem começar a recusar refeições, enquanto outras, que costumavam comer a quantidade necessária, passam a comer compulsivamente.

          Comportamentos Repetitivos ou Ritmo Excessivo

          Roer unhas, mexer no cabelo ou repetir perguntas pode indicar um esforço para aliviar a tensão interna causada pela ansiedade infantil.

            Esses sinais variam de criança para criança e dependem da idade, personalidade e contexto. Por exemplo, uma criança de 4 anos pode demonstrar ansiedade infantil ao chorar excessivamente ao se separar da mãe, enquanto uma de 10 anos pode se preocupar constantemente com notas ou amizades.

            Causas da Ansiedade Infantil

            Os transtornos de ansiedade estão entre as condições mentais mais comuns e exibem, em escala global, uma prevalência ao longo da vida que varia de aproximadamente 17% a 30%, enquanto nos últimos 12 meses essa taxa fica entre 11% e 18% (DALGALARRONDO, 2019)5.

            No contexto brasileiro, pesquisas realizadas em São Paulo e no Rio de Janeiro indicaram que entre 18,8% e 20,8% da população apresentou algum tipo de transtorno de ansiedade ou fobia, enquanto ao longo da vida essa proporção sobe para algo entre 27,7% e 30,8% (DALGALARRONDO, 2019).

            Entender o que está por trás da ansiedade infantil é um passo crucial para ajudá-la. As causas podem ser diversas, frequentemente envolvendo uma combinação de fatores biológicos, ambientais e psicológicos. Veja algumas das principais:

            Fatores Genéticos

            O principal fator de risco para o desenvolvimento de um transtorno de ansiedade na infância é ter pais que apresentem algum transtorno de ansiedade ou depressão. Assim como a maioria das doenças psiquiátricas, os transtornos ansiosos são considerados condições relacionadas ao neurodesenvolvimento, com uma influência genética significativa (ASBAHR, 2004).

            Ambiente Familiar

            Situações como divórcio, discussões frequentes ou superproteção dos pais podem contribuir para a ansiedade infantil. Crianças que crescem em ambientes instáveis muitas vezes sentem que o mundo é imprevisível e perigoso.

            Pressões Externas

            A rotina acelerada, diversas atividades para as crianças e adolescentes, a cobrança por desempenho escolar ou a exposição a notícias alarmantes (como desastres ou violência) podem sobrecarregar as crianças, desencadeando ansiedade infantil.

            Traumas ou Experiências Negativas

            Eventos como bullying, perda de um ente querido ou mudanças bruscas (como mudar de cidade) podem ser gatilhos para a ansiedade infantil.

            Uso Excessivo de Tecnologia

            O tempo prolongado em telas, especialmente redes sociais, tem sido associado a níveis mais altos de ansiedade infantil. Comparações sociais e a exposição a conteúdos inadequados podem afetar a autoestima e a sensação de segurança.

            Impactos no Desenvolvimento Emocional

            Quando não tratada, a ansiedade infantil pode ter consequências sérias no desenvolvimento emocional. Crianças ansiosas tendem a ter mais dificuldade para regular suas emoções, o que pode levar a problemas como baixa autoestima, isolamento social ou até depressão na adolescência. Além disso, a ansiedade constante ativa o sistema de estresse do corpo, liberando hormônios como o cortisol, que, em excesso, podem prejudicar o cérebro em formação.

            Por outro lado, identificar e tratar a ansiedade infantil precocemente pode prevenir esses impactos. Crianças que recebem apoio desenvolvem resiliência, aprendem a lidar com desafios e constroem uma base emocional sólida para a vida adulta.

            Como Auxiliar o Desenvolvimento Emocional?

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            Aqui estão algumas ações que pais e cuidadores podem adotar:

            Crie um Ambiente Seguro e Previsível

            Rotinas consistentes ajudam a reduzir a ansiedade infantil, pois dão à criança uma sensação de controle. Estabeleça horários para refeições, brincadeiras e sono, e evite mudanças bruscas sempre que possível.

              Valide os Sentimentos da Criança


              Frases como “Eu sei que você está com medo, e tudo bem” mostram que você entende o que ela sente. Evite minimizar a ansiedade infantil com comentários como “Não é nada” ou “Para de besteira”.

                Ensine Técnicas de Relaxamento

                Respiração profunda, contar até dez ou imaginar um lugar seguro são ferramentas simples que ajudam a criança a se acalmar. Pratique essas técnicas com ela em momentos tranquilos para que se tornem um hábito.

                  Limite a Exposição a Estímulos Estressantes

                  Reduza o tempo de tela e filtre conteúdos que possam assustar ou pressionar a criança. Substitua essas atividades por brincadeiras ao ar livre ou leitura.

                    Busque Ajuda Profissional

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                    Quando sinais de transtornos de ansiedade forem identificados, é fundamental que os pais não ignorem ou posterguem a busca por ajuda profissional. Adiar essa decisão pode trazer consequências que afetam não apenas a rotina da criança, mas também seu bem-estar a longo prazo.

                    Muitas vezes, na tentativa de minimizar o problema ou na esperança de que os sintomas desapareçam com o tempo, pais acabam protelando a procura por especialistas. No entanto, transtornos de ansiedade não são apenas uma fase passageira. Se não forem devidamente acompanhados, podem se intensificar e interferir nas relações sociais, no desempenho escolar e na qualidade de vida da criança.

                    Mesmo quando há dúvidas se o filho realmente apresenta um transtorno de ansiedade, procurar um profissional ainda é o melhor caminho. Psicólogos e psiquiatras infantis são capacitados para avaliar cada caso de maneira individualizada, identificar possíveis dificuldades emocionais e indicar as melhores abordagens para auxiliar a criança no controle da ansiedade. Muitas vezes, o esclarecimento profissional evita que o problema se agrave e permite que medidas preventivas sejam adotadas de forma eficaz.

                    Buscar ajuda não significa falhar como pai ou mãe, mas sim demonstrar cuidado e responsabilidade. Quanto mais cedo os sintomas forem tratados, maiores as chances de evitar impactos negativos no futuro. O desenvolvimento emocional saudável da criança depende do suporte que ela recebe. Portanto, diante de qualquer sinal de sofrimento emocional ou mesmo de incertezas sobre o comportamento do seu filho, não hesite: procure um profissional qualificado e proporcione a ele a oportunidade de crescer com mais segurança e bem-estar.

                    O Papel da Escola e da Comunidade

                    A escola também desempenha um papel vital na identificação e no manejo da ansiedade infantil. Professores podem notar mudanças no comportamento antes dos pais e devem ser treinados para reconhecer os sinais. Programas de apoio emocional nas escolas, como grupos de conversa ou atividades de relaxamento, podem fazer a diferença.

                    Além disso, a comunidade — amigos, vizinhos e familiares — deve trabalhar junta para criar um ambiente acolhedor. Crianças com ansiedade infantil se beneficiam de redes de apoio que reforçam sua segurança e confiança.

                    Quando a Ansiedade Infantil se Torna um Transtorno?

                    Como já mencionado, nem toda ansiedade é um problema. Sentir medo ou nervosismo antes de um evento importante, como uma apresentação na escola, é normal. O que diferencia a ansiedade comum de um transtorno é a intensidade, a duração e o impacto na vida da criança. Se a ansiedade infantil impede a criança de participar de atividades rotineiras por semanas ou meses, é hora de buscar ajuda conforme mencionado no item acima.

                    Intervenções, como a terapia cognitivo-comportamental (TCC), têm se apresentado como a ferramenta mais eficaz para tratar transtornos de ansiedade (ASBAHR, 2004).

                    Conclusão

                    A ansiedade infantil é um desafio que não deve ser ignorado. Identificar os sinais precocemente e agir com empatia pode proteger o desenvolvimento emocional das crianças, permitindo que elas cresçam com confiança e equilíbrio. Pais, educadores e a sociedade como um todo têm a responsabilidade de criar um ambiente onde a criança se sinta segura para expressar seus medos e buscar ajuda.

                    Com as estratégias certas, a ansiedade infantil pode ser transformada de um obstáculo em uma oportunidade de aprendizado. Ao ensinar as crianças a enfrentar seus medos desde cedo, estamos preparando-as não apenas para superar a ansiedade, mas para construir uma vida emocional rica e resiliente. O futuro emocional de uma criança começa com a atenção que oferecemos hoje.

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                    Referências

                    1. ELIA, Josephine. Overview of anxiety disorders in children and adolescents. [S.l.]: MSD Manuals, [s.d.]. Disponível em: https://www.msdmanuals.com/professional/pediatrics/psychiatric-disorders-in-children-and-adolescents/overview-of-anxiety-disorders-in-children-and-adolescents. Acesso em: 25 mar. 2025. ↩︎
                    2. AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5-TR. 5. ed. (texto revisado). Porto Alegre: Artmed, 2023. ↩︎
                    3. ASBAHR, Fernando R. Transtornos ansiosos na infância e adolescência: aspectos clínicos e neurobiológicos. Jornal de Pediatria, Porto Alegre, v. 80, n. 2, supl., p. S28-S34, 2004. ↩︎
                    4. CRANZEL, Gabriela. (2022). Orientações: Ansiedade em Crianças e Adolescentes. SOPERJ. Disponível em: https://soperj.com.br/ansiedade-infantil-orientacao/. Acesso em: 25 mar. 2025. ↩︎
                    5. DALGALARRONDO, Paulo. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2019. ↩︎

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