O Que Há de Novo na Alfabetização:  Avanços Científicos e Relatórios para o Ensino em 2025 (Parte 2)

6 e 7 anos (Alfabetização)

No artigo anterior, abordamos os avanços científicos que destacam a importância da Ciência Cognitiva da Leitura, a triste realidade da educação brasileira e a grande resistência em adotar uma educação baseada em evidências. Também discutimos dois relatórios internacionais com pesquisas científicas sobre alfabetização (NRP e NELP), e indicamos os elementos que devem compor um bom programa de alfabetização.

O título desse artigo cita “O Que Há de Novo na Alfabetização”, mas, como vimos, o NRP foi publicado em 2000, ou seja, há 25 anos. Infelizmente, no Brasil, ainda não adotamos práticas que demonstram eficiência.

A seguir, estudaremos algumas pesquisas brasileiras um pouco mais recentes.

Avanços Científicos na Alfabetização: Uma Visão Inovadora

Como vimos na parte 1, a alfabetização é um dos pilares fundamentais da educação, e avanços científicos têm transformado a maneira como entendemos e abordamos esse processo. Relatórios como Alfabetização Infantil: Os Novos Caminhos (2003), Aprendizagem Infantil: Uma Abordagem da Neurociência, Economia e Psicologia Cognitiva (2011) e o RENABE (Rede Nacional de Alfabetização Baseada em Evidências, 2020) fornecem informações essenciais para aprimorar métodos e práticas educativas.

1. Relatório: Alfabetização Infantil: Os Novos Caminhos

O relatório “Alfabetização Infantil: os Novos Caminhos”, apresentado em 15 de setembro de 2003 pela Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, representa um marco significativo da alfabetização infantil no Brasil. Coordenado pelo professor João Batista Araújo e Oliveira, um dos grandes especialistas no assunto,  o documento contou com a colaboração de renomados pesquisadores, como  Cláudia Cardoso-Martins, Fernando César Capovilla e José Carlos Junca de Morais.

O principal objetivo do relatório foi analisar a situação da alfabetização no país, verificar os desafios e propor recomendações para aprimorar o processo de ensino aprendizagem da leitura e escrita das crianças. Com esse intuito, o grupo de trabalho averiguou práticas pedagógicas, programas de formação de professores, políticas públicas e materiais didáticos utilizados na época.

Entre as principais conclusões, destacou-se:

  • A necessidade de fundamentar as práticas de alfabetização em evidências científicas, ressaltando a importância da consciência fonológica e do conhecimento do princípio alfabético para o desenvolvimento da leitura e escrita, bem como a instrução explícita e sistemática.
  • Urgência de revisar os programas de formação de professores, garantindo que os educadores estivessem preparados para aplicar métodos eficazes de alfabetização.
  • Recomendações para a elaboração de materiais didáticos de qualidade
  • Implementação de políticas públicas que assegurassem a alfabetização plena das crianças brasileiras.
  • Avaliações contínuas para monitorar o progresso dos alunos e a eficácia das metodologias empregadas.

Passadas mais de duas décadas desde sua publicação, o relatório “Alfabetização Infantil: os Novos Caminhos” continua sendo uma referência fundamental para educadores, formuladores de políticas e pesquisadores interessados em promover uma educação de qualidade no Brasil. Suas análises e recomendações permanecem relevantes, especialmente diante dos desafios contemporâneos na área da educação.

Se desejar aprofundar-se no conteúdo do relatório, ele está disponível para consulta online, clique aqui.

2. Relatório: APRENDIZAGEM INFANTIL: Uma abordagem da neurociência, economia e psicologia cognitiva

O documento aborda temas essenciais para a aquisição da leitura e da escrita, além de destacar a importância da educação infantil no desenvolvimento das crianças.

A neurociência, um dos tópicos abordados, enfatiza as diversas maneiras de medir a atividade cerebral e destaca sua relevância para o processo de aprendizagem, analisando como a leitura e a escrita se desenvolvem no cérebro.

Estudos apontam que a exposição a estímulos linguísticos desde a primeiríssima infância é crucial para a formação das conexões neurais associadas à linguagem. Interações verbais com pais e cuidadores, como conversas e leituras compartilhadas, são fundamentais para estimular áreas cerebrais responsáveis pela compreensão e produção da fala, assunto que falamos recorrentemente nos artigos aqui do site. Durante esse período, o cérebro infantil apresenta elevada plasticidade, o que permite que experiências precoces tenham um impacto significativo nas habilidades linguísticas futuras.

O relatório recomenda a criação de programas para incentivar o hábito de leitura no ambiente doméstico. A leitura em voz alta, amplamente destacada no documento, contribui para a ativação de áreas cerebrais ligadas ao processamento auditivo, o que facilita o desenvolvimento da relação fonema-grafema. Essa habilidade é essencial e reconhecida como um pilar em pesquisas científicas ao redor do mundo.

Um capítulo que merece destaque são dos autores Flávio Cunha e James Heckman. James Heckman, economista laureado com o Prêmio Nobel, ressalta a importância do investimento no desenvolvimento do capital humano desde as primeiras etapas da infância. Suas pesquisas evidenciam que habilidades cognitivas e socioemocionais, como atenção, persistência e capacidade de trabalhar em equipe, desenvolvidas nos primeiros anos de vida, são determinantes para o sucesso acadêmico, profissional e pessoal.

Heckman argumenta que investir na primeira infância, especialmente em crianças de famílias carentes, gera retornos significativos para a sociedade. Esses retornos incluem maior produtividade, melhor saúde e redução de custos sociais associados à criminalidade e à assistência social. Programas de educação infantil de qualidade, que também oferecem suporte às famílias, são ferramentas eficazes para promover igualdade de oportunidades e desenvolvimento econômico sustentável.

Em uma de suas visitas ao Brasil, James Heckman concedeu uma entrevista notável que aprofunda essas questões, para ler a entrevista completa clique aqui!

3. Relatório Nacional de Alfabetização Baseada em Evidências (RENABE)

O Relatório Nacional de Alfabetização Baseada em Evidências (RENABE), lançado pelo Ministério da Educação (MEC) em abril de 2021, tendo como Secretário da Alfabetização, Carlos Nadalim, um especialista no assunto da alfabetização.

O RENABE é um documento acadêmico que reúne pesquisas e práticas bem-sucedidas de alfabetização de diversos países. Seu objetivo principal é fornecer uma base sólida para a formulação de políticas públicas e práticas educacionais eficazes nos primeiros anos escolares do Brasil.

Em suma, o documento visa divulgar as pesquisas mais atuais no assunto da alfabetização.

Diversas autoridades sobre o assunto participaram da elaboração do RENABE, como o Prof. Dr. Renan de Almeida Sargiani, Prof.ª Dr.ª Maria Regina Maluf, Prof.ª Dr.ª Cláudia Cardoso-Martins, Prof.ª Dr.ª Alessandra Gotuzo Seabra, Prof. Dr. Fernando César Capovilla, Prof. Dr. Vitor Geraldi Haase.

Querido leitor, artigos que contenham os nomes citados acima pode ter a plena certeza de que são informações de alta relevância e baseadas em evidências, sem interferências ideológicas ou políticas.

Estruturado em três partes, o RENABE aborda:

  • Fundamentos da aprendizagem e desenvolvimento: explora as ciências cognitivas, as bases neurobiológicas da leitura e escrita, e sua conexão com a matemática.
  • Ensino e avaliação das habilidades de leitura e escrita: debate abordagens educativas que valorizam a diversidade linguística, cultural e biológica dos estudantes.
  • Análise de documentos curriculares e políticas públicas: discorre sobre as tendências comuns dos países que avançaram nos índices de aprendizagem, valendo-se das evidências científicas para guiar suas normativas curriculares e de formação de professores.

O RENABE enfatiza a importância de uma alfabetização baseada em evidências, ou seja, que utilize procedimentos e recursos cujos resultados  foram testados e comprovados eficientes. Para isso, recorre a diversas fontes de evidências como as revisões sistemáticas da literatura e meta-análises dos dados dessas pesquisas.

Ao consolidar conhecimentos científicos e experiências práticas, o RENABE procura nortear educadores, gestores e elaboradores de políticas públicas focados na conhecimento da qualidade da alfabetização no Brasil, incentivando uma educação mais eficiente e inclusiva.

Conclusão

A importância dos relatórios apresentados na parte 1 e 2, sobre a alfabetização baseada em evidências, não podem ser negligenciados, principalmente na educação infantil. Esses relatórios fornecem uma base precisa para compreender como as crianças aprendem a ler e escrever, oferecendo esclarecimentos notáveis que orientam práticas pedagógicas eficazes. Ao integrar dados de pesquisa científica com as realidades do dia a dia nas escolas, esses estudos ajudam educadores e gestores a empregar abordagens mais personalizadas e centradas nas necessidades de cada aluno, promovendo um aprendizado mais consistente e eficiente, sem menosprezar o contexto nos quais vivem.

Além disso, ao destacar métodos e estratégias comprovadamente eficazes, os relatórios baseados em evidências ajudam a otimizar o uso de recursos e a garantir que o tempo e o esforço dedicados ao ensino sejam aplicados da forma mais produtiva possível. Em um cenário em que a alfabetização é uma das competências essenciais para o desenvolvimento das crianças, garantir que as práticas educacionais estejam alinhadas com as melhores evidências científicas é fundamental para formar uma base sólida para o futuro dos alunos.

Portanto, esses relatórios não apenas oferecem uma análise profunda dos métodos e resultados da alfabetização, mas também servem como ferramentas essenciais para a evolução da educação, permitindo que educadores e responsáveis tomem decisões acertadas  e impactem positivamente o percurso de aprendizagem das crianças.

Querido professor/pais, o artigo foi escrito com muito carinho e atenção! Volte mais vezes e, se gostou, indique o site para amigos e familiares! Grande abraço!

Referências

Aprendizagem infantil : uma abordagem da neurociência, economia e psicologia A654 cognitiva / Aloísio Pessoa de Araújo, coordenador. – Rio de Janeiro: Academia Brasileira de Ciências, 2011.

BRASIL, Alfabetização Infantil: os novos caminhos – relatório final. Brasília: Comissão de Educação e Cultura, 2007.

BRASIL, Relatório nacional de alfabetização baseada em evidências. Brasília: MEC/SEALF, 2020.

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