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Funções Executivas: O Motor do Pensamento e Comportamento (Parte 1)

6 e 7 anos (Alfabetização)

Você já parou para pensar no que nos permite planejar o dia, tomar decisões ou resistir àquele impulso de comer mais um pedaço de bolo? Essas habilidades, que usamos o tempo todo sem nem perceber, têm nome: funções executivas. Elas são como o “maestro” do nosso cérebro, coordenando pensamentos, emoções e ações para que possamos alcançar nossos objetivos – desde os mais simples, como arrumar a cama, até os mais complexos, como organizar um projeto importante. Mas o que exatamente são essas funções executivas, por que elas são tão cruciais para o nosso desenvolvimento e como podemos ajudá-las a florescer, especialmente nas crianças?

Neste artigo, vamos mergulhar fundo nesse tema fascinante, começando por entender o conceito, sua importância e como elas se desenvolvem. E tem mais: o assunto é tão rico que decidi dividi-lo em duas partes. Nesta primeira parte, exploraremos os fundamentos das funções executivas e sua relevância no dia a dia. Na segunda parte, vamos detalhar as 11 funções executivas específicas, conforme descritas por Arruda (2014)1, com exemplos práticos e orientações para identificá-las e estimulá-las.

O que são Funções Executivas?

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Desde o momento em que nascemos, passamos por uma infinidade de experiências que moldam nosso desenvolvimento. Do acolhimento no útero ao momento do nascimento, dos primeiros passos às diversas experiências, cada vivência se acumula e se conecta aos aprendizados anteriores. Esse processo contínuo nos permite adquirir novas habilidades e enfrentar desafios com mais eficiência.

Para Léon et al. (2013, p. 114)2, “as Funções Executivas são um conjunto de habilidades cognitivas necessárias para realizar diversas atividades que demandam planejamento e monitoramento de comportamentos intencionais relacionados a um objetivo ou a demandas ambientais. As Funções Executivas permitem ao indivíduo interagir com o mundo de forma mais adaptativa, sendo fundamentais para o direcionamento e regulação de várias habilidades intelectuais, emocionais e sociais, como cozinhar, ir à escola, fazer compras, entre outros”.

Segundo Arruda  (2014), as funções executivas referem-se a um conjunto de competências cognitivas fundamentais para regular nosso comportamento e pensamento. Elas são responsáveis por nos ajudar a tomar decisões, planejar ações, resolver problemas e adaptar-nos a novas situações, sempre considerando experiências passadas para agir no presente e traçar objetivos futuros. Utilizamos essas habilidades constantemente, desde as tarefas mais simples, como escolher uma roupa, até a resolução de questões mais complexas do cotidiano.

Essas funções são processadas principalmente no córtex pré-frontal (Figura 13), uma região cerebral localizada na parte frontal do cérebro. No entanto, seu funcionamento depende de uma rede interligada de circuitos neurais que trabalham em sintonia (ARRUDA, 2014).

O processo de desenvolvimento das funções executivas  tem início no primeiro ano de vida e ganha maior intensidade entre os 6 e 8 anos, estendendo-se até o término da adolescência e o começo da idade adulta, onde atinge sua maturidade. Ao longo desse período, várias competências relacionadas ao funcionamento executivo se aprimoram (LEON et al, 2013).

Com o passar dos anos, as funções executivas se aperfeiçoam, possibilitando avanços no julgamento, no controle emocional, na tomada de decisões e na capacidade de adiar recompensas em prol de um objetivo maior. Isso é essencial para o desenvolvimento da autonomia e para o sucesso escolar e social. No entanto, dificuldades nessas funções podem se manifestar em qualquer idade, tornando-se mais perceptíveis nos primeiros anos do ensino fundamental, quando as demandas escolares aumentam e exigem mais independência dos alunos (ARRUDA, 2014).

Além disso, vale destacar que esse desenvolvimento não ocorre de forma uniforme, pois depende de fatores como estímulos ambientais, experiências individuais e até mesmo da maturação cerebral, o que reflete a complexidade e a riqueza desse campo de estudo.

É muito importante saber que existem estratégias eficazes para ajudar crianças que enfrentam desafios no desenvolvimento das funções executivas. Ferramentas específicas podem ser aplicados para estimular essas habilidades, auxiliando tanto aqueles que apresentam dificuldades quanto os que já possuem um bom desempenho, mas podem aprimorar ainda mais suas capacidades cognitivas.

Compreender o papel das funções executivas é essencial para pais e educadores, pois essas habilidades influenciam diretamente a aprendizagem e o comportamento infantil. Estimular o desenvolvimento dessas competências desde cedo pode proporcionar benefícios duradouros, tornando as crianças mais resilientes, organizadas e preparadas para enfrentar desafios ao longo da vida.

A Importância de Desenvolver as Funções Executivas

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É amplamente reconhecido que as funções executivas têm um papel essencial na previsão das habilidades em matemática e leitura durante toda a trajetória escolar. Em outras palavras, crianças que, já na fase pré-escolar, mostram dificuldades nessas funções tendem a apresentar resultados inferiores nessas disciplinas ao longo do Ensino Fundamental e Médio. Pesquisas demonstram que estimular precocemente as funções executivas contribui significativamente para o sucesso e a realização acadêmica ao longo dos anos de estudo. Por outro lado, focar exclusivamente no conteúdo curricular, sem trabalhar as competências executivas que sustentam o aprendizado, pode estar na raiz do baixo desempenho escolar de muitos estudantes (ARRUDA, 2014).

Além de sua relevância para o êxito acadêmico, as funções executivas também desempenham um papel crucial em diversos aspectos da vida adulta. Estudos científicos indicam que elas influenciam conquistas como uma carreira bem-sucedida, relacionamentos estáveis e o bem-estar físico e mental. Por exemplo, crianças que, entre os três e 11 anos, enfrentam dificuldades no autocontrole – caracterizadas por baixa persistência, impulsividade elevada e atenção reduzida – têm maior probabilidade de, aos 30 anos, apresentar problemas de saúde, rendimentos menores, envolvimento com drogas e até mesmo comportamentos criminosos, em comparação com aquelas que desenvolveram um autocontrole adequado.

Outro ponto relevante é a disparidade socioeconômica: crianças de famílias com menos recursos econômicos frequentemente exibem um desempenho inferior em funções executivas em relação às de classes mais favorecidas. Assim, muitos especialistas argumentam que a ausência de uma educação focada nas funções executivas pode atuar como um fator que perpetua a desigualdade e a pobreza (ARRUDA, 2014).

A relevância das funções executivas constitui um pilar fundamental não apenas para o aprendizado, mas para a vida como um todo. Impressiona a forma como o desenvolvimento precoce dessas habilidades se conecta a resultados tão amplos, desde o sucesso escolar até a qualidade de vida na idade adulta. É interessante considerar que algo que tem início na infância, como o autocontrole ou a capacidade de manter a atenção, possa influenciar aspectos tão diversos, como saúde mental e estabilidade financeira.

A questão da desigualdade socioeconômica também chama a atenção, pois evidencia como a falta de acesso a uma educação que priorize essas competências pode aprofundar ainda mais as barreiras enfrentadas por crianças de classes menos privilegiadas. Isso reforça a noção de que investir nas funções executivas não se trata apenas de melhorar notas, mas de proporcionar ferramentas para uma vida mais plena e equitativa.

A Necessidade de Estimular as Funções Executivas Desde a Infância

Estimular as funções executivas desde muito cedo é essencial para o desenvolvimento pleno de uma criança, influenciando diretamente sua capacidade de aprender, tomar decisões e enfrentar desafios ao longo da vida. Estudos da neurociência mostram que essas habilidades começam a se formar nos primeiros anos de vida, período em que o cérebro apresenta alta plasticidade, ou seja, uma grande capacidade de adaptação e aprendizado com base nas experiências vividas.

Quando estimuladas adequadamente nessa fase, elas criam uma base sólida para o sucesso acadêmico, social e emocional no futuro. Por exemplo, crianças que desenvolvem um bom controle inibitório conseguem resistir a impulsos e focar em tarefas, o que é fundamental para o aprendizado escolar. Já a memória de trabalho permite reter e manipular informações, como seguir instruções ou resolver problemas matemáticos. A flexibilidade cognitiva, por sua vez, ajuda a criança a se adaptar a mudanças e encontrar soluções criativas diante de imprevistos. Pesquisas realizadas por instituições renomadas, como a Universidade de Harvard, através do Center on the Developing Child,4 apontam que intervenções precoces, como brincadeiras estruturadas, interações ricas com cuidadores e ambientes previsíveis, fortalecem essas habilidades.

Além disso, a falta de estímulo pode levar a dificuldades futuras, como problemas de atenção ou regulação emocional, que impactam desde o desempenho escolar até as relações interpessoais. Outro ponto importante é que o desenvolvimento dessas funções não depende apenas de fatores biológicos, mas também do contexto em que a criança está inserida. Ambientes caóticos ou negligentes podem prejudicar esse processo, enquanto cuidados consistentes e atividades que desafiem o pensamento promovem avanços significativos.

Assim, investir na estimulação das funções executivas desde a infância é uma estratégia poderosa para preparar as crianças para um mundo cada vez mais complexo, onde a capacidade de planejar, focar e se adaptar é indispensável. Esse cuidado precoce reflete não apenas no indivíduo, mas também na sociedade, ao formar pessoas mais resilientes e capazes de contribuir positivamente.

Conclusão – Funções Executivas Parte 1

As funções executivas são, sem dúvida, o motor que impulsiona nosso pensamento e comportamento, guiando-nos desde as tarefas mais rotineiras até os desafios mais intricados da vida. Como exploramos nesta primeira parte, elas são habilidades  essenciais que começam a se desenvolver desde a infância e continuam a se aprimorar ao longo dos anos, influenciando diretamente o sucesso escolar, a autonomia e até mesmo a qualidade de vida na idade adulta.

Compreender sua importância nos permite reconhecer que estimular essas competências desde cedo não é apenas uma questão de melhorar o desempenho acadêmico, mas de equipar as crianças com ferramentas para uma existência mais organizada, resiliente e plena. A conexão entre o desenvolvimento das funções executivas e aspectos como saúde mental, estabilidade financeira e equidade social reforça a ideia de que investir nelas é investir no futuro – tanto individual quanto coletivo. Na próxima parte deste artigo, mergulharemos nas 11 funções executivas específicas, trazendo exemplos práticos e estratégias para identificá-las e fortalecê-las, oferecendo um guia ainda mais completo para pais, educadores e qualquer pessoa interessada em potencializar essas habilidades tão fundamentais. Fique de olho!

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  1. ARRUDA, Marco Antônio. Cartilha dos pais e dos professores: educando funções executivas, educando para a resiliência. Ribeirão Preto: Instituto Glia, 2014. ↩︎
  2. LEÓN, Camila Barbosa Riccardi; RODRIGUES, Camila Cruz; SEABRA, Alessandra Gotuzo; DIAS, Natália Martins. Funções executivas e desempenho escolar em crianças de 6 a 9 anos de idade. Revista Psicopedagogia, São Paulo, v. 30, n. 92, p. 113-120, 2013. ↩︎
  3. COMITÊ CIENTÍFICO DO NÚCLEO CIÊNCIA PELA INFÂNCIA. Funções executivas e desenvolvimento infantil: habilidades necessárias para a autonomia: estudo III. São Paulo: Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, 2016. (Série Estudos do Comitê Científico NCPI). ↩︎
  4. CENTER ON THE DEVELOPING CHILD AT HARVARD UNIVERSITY. Building the brain’s “air traffic control” system: how early experiences shape the development of executive function. Harvard University, 2011. Disponível em: https://developingchild.harvard.edu/resources/building-the-brains-air-traffic-control-system-how-early-experiences-shape-the-development-of-executive-function/. Acesso em: 20 mar. 2025. ↩︎

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