Primeira Infancia

Primeira Infância: Saúde Mental, Desafios, Vínculos e Soluções na Prática

0 a 3 anos

Você já parou para pensar que a saúde mental dos bebês e das crianças pequenas é tão importante quanto sua saúde física? Pois é. Às vezes, a gente imagina que, por serem tão novinhos, eles ainda não vivem emoções complexas. Mas a ciência nos mostra exatamente o contrário.

De acordo com o Center on the Developing Child da Universidade de Harvard1, a primeira infância — que vai do nascimento até os 6 anos — é uma fase decisiva para o desenvolvimento emocional. E isso não é só uma teoria distante: é algo que impacta diretamente o dia a dia das famílias, das escolas e das comunidades.

Inspirado no artigo “Early Childhood Mental Health” e nas reflexões da Dra. Lindsey Burghardt, pediatra e Diretora de Ciências do centro, este texto quer ser um convite para olharmos com mais carinho e atenção para a saúde mental dos pequenos, especialmente na primeira infância.

O Que é, de Fato, Saúde Mental na Primeira Infância?

De acordo com a dra. Burghardt, quando falamos em saúde mental infantil, estamos falando da capacidade que uma criança pequena tem de:

• Entender e expressar suas emoções;

• Criar vínculos afetivos, seguros e amorosos;

• Sentir-se segura para explorar, brincar e aprender sobre o mundo que a cerca.

Sim, os bebês também sentem! E sentem muito. Desde o comecinho, até mesmo no período da gestação, eles estão absorvendo estímulos, afetos e vivências que moldam suas emoções e seu desenvolvimento. É justamente nessa fase, especialmente nos três primeiros anos de vida, que o cérebro está crescendo em uma velocidade impressionante, formando milhares de conexões neurais a cada segundo.

Essas conexões vão depender de uma combinação entre os genes da criança e, principalmente, das experiências que ela vive no seu dia a dia na primeira infância.

Por Que a Primeira Infância é Tão Sensível?

O cérebro de uma criança pequena é como uma esponja: tudo o que ela vive, desde um sorriso carinhoso até situações de estresse, vai deixando marcas.

A Dra. Burghardt explica que quando a criança vive em um ambiente estável, com adultos que a acolhem, conversam, brincam e oferecem segurança emocional, ela constrói uma base forte para lidar com os desafios da vida.

Por outro lado, ambientes instáveis, onde há muita tensão, insegurança, ausência de rotina ou falta de vínculos, podem fragilizar essa base, afetando sua saúde mental não só na primeira infância, mas também ao longo da vida.

O Que o Ambiente Tem a Ver com Isso?

Muita coisa! Ambientes saudáveis, com espaços seguros, acesso a alimentação adequada, natureza e livres de poluição e outros riscos, ajudam a criança a crescer mais tranquila, curiosa, aberta para aprender e se conectar com os outros.

Por outro lado, situações como insegurança alimentar, poluição, falta de moradia adequada ou ambientes muito estressantes podem gerar impactos sérios na saúde mental infantil, especialmente durante a primeira infância, quando o cérebro é mais sensível a experiências adversas.

E a Pandemia? Como Isso Afetou Nossas Crianças?

A pandemia escancarou algo que muitos já sentiam na pele: o quanto é difícil equilibrar trabalho, cuidado com os filhos e as incertezas do mundo.

Muitas famílias enfrentaram, e ainda enfrentam, desafios enormes, como falta de acesso a creches de qualidade, mudanças nas rotinas, perda de empregos e, claro, muito estresse. Tudo isso impactou diretamente as crianças pequenas.

A Dra. Burghardt reforça que essa sobrecarga afetou tanto os adultos quanto os pequenos, gerando mais ansiedade, mudanças no comportamento e insegurança emocional nas crianças, especialmente durante sua primeira infância, uma fase extremamente sensível.

Cuidar de Quem Cuida Também é Cuidar das Crianças

Primeira infancia

Aqui vai uma verdade que às vezes esquecemos: crianças não crescem sozinhas. Elas precisam de adultos bem, emocionalmente equilibrados, para se sentirem seguras.

Se os cuidadores estão estressados, esgotados, sem rede de apoio, é natural que fiquem com menos recursos emocionais para oferecer atenção, acolhimento e paciência.

Por isso, olhar para a saúde mental dos cuidadores, sejam pais, mães, avós, professores ou profissionais da infância, é parte fundamental do cuidado na primeira infância.

Conversar sobre saúde mental, buscar apoio quando necessário (incluindo acolhimento psicológico), criar redes de apoio e políticas públicas que valorizem o cuidado infantil são ações que fazem toda a diferença, principalmente nos primeiros anos de vida.

Na Prática: O Que Podemos Fazer no Dia a Dia?

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Você não precisa ser especialista em desenvolvimento infantil para ajudar uma criança a crescer emocionalmente saudável. Pequenas atitudes, feitas todos os dias, constroem essa base:

  • Crie rotinas: sabe aquele ritual do banho, escovar os dentinhos e uma historinha antes de dormir? Isso, que parece simples, dá uma enorme sensação de segurança para a criança, especialmente na primeira infância.
  • Seja presente: não precisa ser perfeito, mas precisa ser presente. Ouça, abrace, brinque, converse. Momentos simples, como cantar juntos na hora do almoço ou olhar os passarinhos pela janela, fortalecem o vínculo e alimentam o desenvolvimento emocional.
  • Acolha as emoções: quando a criança chora, faz birra ou demonstra frustração, ela não está “manipulando”. Ela está tentando entender o que sente. Oferecer colo, escuta e nomear os sentimentos (“O que deixou você triste…”) é um dos maiores presentes que podemos dar.
  • Crie ambientes saudáveis: sempre que possível, permita que a criança brinque ao ar livre, tenha contato com a natureza, faça atividades que estimulem a curiosidade e o movimento. Isso é especialmente valioso na primeira infância.
  • Cuide de você: isso não é egoísmo. É necessidade. Quando o cuidador está bem, a criança também se sente mais segura e amada.

E a Comunidade? O Que Podemos Fazer Juntos?

A responsabilidade de cuidar da saúde mental infantil não é só da família. É um trabalho coletivo, que envolve:

  • Escolas e creches que ofereçam ambientes afetivos e seguros, preparados para acolher as crianças na primeira infância;
  • Comunidades que criem espaços de apoio às famílias, como bibliotecas, praças, projetos sociais;
  • Políticas públicas que garantam licença parental, apoio financeiro e acesso a serviços de saúde e educação de qualidade, com foco na primeira infância.

Além disso, é fundamental olhar com ainda mais cuidado para famílias que vivem em situação de vulnerabilidade. Garantir que todas as crianças, independentemente de sua origem, tenham acesso às mesmas oportunidades de cuidado e desenvolvimento é investir em um futuro mais justo e saudável para todos, começando pela primeira infância.

Para Reflexão…

Cuidar da saúde mental na primeira infância não é um luxo. É uma necessidade. É nessa fase que plantamos as sementes da empatia, da resiliência, da segurança emocional e da capacidade de aprender e se relacionar.

Quando uma criança cresce cercada de amor, acolhimento, rotina, brincadeira e segurança, ela tem muito mais chances de se tornar um adulto confiante, equilibrado e capaz de enfrentar os desafios da vida.

Por isso, ao cuidar de uma criança, especialmente na primeira infância, estamos — de verdade — cuidando do futuro.

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Referências

  1. CENTER ON THE DEVELOPING CHILD AT HARVARD UNIVERSITY. Early Childhood Mental Health. Disponível em: https://developingchild.harvard.edu/resources/articles/early-childhood-mental-health/. Acesso em: 29 Mai 2025.
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