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Transtorno de Oposição Desafiante (TOD) Existe? O Que Pais e Professores Precisam Saber

6 e 7 anos (Alfabetização)

O Transtorno de Oposição Desafiante (TOD) é uma condição que desperta muitas dúvidas entre pais e professores. Afinal, trata-se de um transtorno real ou apenas um comportamento desafiador comum na infância? Neste artigo, vamos esclarecer o que é o TOD, seus sinais, causas e estratégias eficazes para lidar com crianças que apresentam esse comportamento.

O que é o Transtorno de Oposição Desafiante (TOD)?

O Transtorno de Oposição Desafiante está especificado entre os tipos de condições psiquiátricas disruptivas, do controle de impulsos e da conduta no o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5-TR). De acordo com este Manual, o TOD se manifesta de forma intensa e frequente, interferindo no desenvolvimento social e acadêmico da criança.

É importante destacar que todas as crianças podem apresentar comportamento desafiador em algum momento. No entanto, no TOD, essas atitudes ocorrem de maneira exacerbada, prejudicando a rotina da criança e do ambiente ao seu redor.

Quais são os sinais do TOD?

Abaixo estão os critérios diagnósticos do DSM-5-TR:

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Os sinais podem se manifestar de diferentes formas dependendo do ambiente em que a criança ou adolescente se encontra. Entender esses sinais é fundamental para uma intervenção adequada e eficaz.

De acordo com o psiquiatra dr Daniel Zandona, do Hospital Israelista Albert Einstein, o TOD normalmente, tende a aparecer antes dos 8 anos, mas não se limita a esse período da vida, podendo ocorrer em idades posteriores.

Sinais do TOD em casa

No ambiente familiar, as crianças com TOD frequentemente desafiam os pais e outros cuidadores. Os principais sinais incluem:

  • Desobediência frequente: a criança recusa seguir regras e ordens dadas pelos pais.
  • Birras intensas e prolongadas: episódios de explosões emocionais desproporcionais ao contexto.
  • Discussões constantes: argumentam excessivamente e tentam contrariar qualquer instrução.
  • Irritabilidade e raiva intensa: a criança pode perder a calma facilmente e demonstrar agressividade verbal.
  • Culpar os outros por erros e mau comportamento: dificuldade em assumir responsabilidades por suas ações.
  • Vingança e rancor: manifestação frequente de ressentimento e desejo de retribuição.

Os pais podem sentir que a rotina familiar se torna caótica e desgastante, já que o comportamento opositor ocorre com alta frequência e intensidade.

Sinais do TOD na escola

O ambiente escolar é um dos locais onde os sinais do TOD são mais evidentes devido à necessidade de seguir regras e interagir socialmente. Alguns comportamentos comuns incluem:

  • Desafio a professores e autoridades: recusa em seguir instruções ou desafiar a autoridade do professor abertamente.
  • Dificuldade em trabalhar em grupo: tendência a confrontar colegas e a não colaborar.
  • Resistência a regras escolares: quebra proposital de normas, como não entregar tarefas ou se recusar a sentar no lugar indicado.
  • Respostas agressivas a correções: pode se irritar facilmente quando chamado a atenção.
  • Baixo desempenho acadêmico: não por falta de habilidade, mas pela recusa em participar e cumprir atividades.
  • Provocação e conflitos frequentes: busca provocar colegas e pode ter dificuldades em manter amizades.

Professores e profissionais da educação podem enfrentar desafios significativos ao lidar com crianças com TOD, pois o comportamento desafiante interfere diretamente na dinâmica da sala de aula.

Sinais do TOD em outros ambientes

Fora de casa e da escola, os sinais do TOD também são notáveis em interações sociais diversas, como em parques, festas e encontros familiares:

  • Dificuldade em aceitar “não” como resposta: a criança insiste e persiste até conseguir o que quer.
  • Conflitos com outras crianças: pode provocar brigas e demonstrar pouca empatia.
  • Problemas com figuras de autoridade externas: como parentes, treinadores esportivos ou monitores de atividades.
  • Impulsividade e comportamentos de risco: pode agir sem pensar nas consequências.
  • Rejeição social: outras crianças podem evitar sua companhia devido ao comportamento agressivo ou desafiador.

TDAH e TOD: A Conexão Entre Impulsividade e Comportamento Opositor

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Segundo Serra-Pinheiro et. al (2004) os sinais de hiperatividade e impulsividade foram fatores importantes que previram o desenvolvimento futuro do Transtorno de Oposição Desafiante (TOD). O Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) parece representar um risco para o surgimento do TOD.

Ou seja, crianças com TDAH podem apresentar maior propensão a desenvolver TOD, o que sugere que a impulsividade e a hiperatividade podem ser fatores de risco para comportamentos desafiadores e opositores.

A taxa aproximada de TOD em amostras clínicas de TDAH é em torno de 50%, muito superior àquela encontrada na população em geral (SERRA-PINHEIRO et al, 2004).

A relação entre TDAH e TOD pode ser entendida por alguns fatores. Em primeiro lugar, as dificuldades de autorregulação emocional presentes no TDAH aumentam a frustração e reduzem a tolerância a limites impostos pelos adultos. Crianças com TDAH tendem a reagir impulsivamente a regras e instruções, o que pode gerar conflitos frequentes em ambientes familiares e escolares. Esse padrão de comportamento, quando persistente, pode se consolidar como oposição sistemática à autoridade, característica central do TOD.

Além da autorregulação emocional, dificuldades na função executiva também contribuem para a relação entre os dois transtornos. O TDAH compromete habilidades como planejamento, controle inibitório e flexibilidade cognitiva, tornando desafiador para a criança lidar com regras e expectativas sociais. Sem um suporte adequado, esses desafios podem resultar em comportamentos opositores, reforçando padrões negativos de interação com pais, professores e colegas.

Outro fator relevante é o ambiente familiar e social. Crianças com TDAH frequentemente enfrentam críticas constantes devido à sua impulsividade e dificuldades de concentração. Se essas interações forem predominantemente negativas, a criança pode desenvolver uma atitude desafiadora como forma de defesa, alimentando o ciclo de oposição característico do TOD. Modelos parentais inconsistentes, punições severas ou falta de suporte emocional também podem intensificar esses comportamentos.

A sobreposição entre TDAH e TOD também tem implicações importantes no tratamento. Crianças que apresentam ambos os transtornos tendem a responder de maneira diferente às abordagens convencionais para o TDAH. O manejo comportamental precisa ser ajustado para abordar não apenas a desatenção e a impulsividade, mas também a dificuldade de aceitar regras e lidar com frustrações. Estratégias de reforço positivo, treinamento parental e intervenções psicoterapêuticas são fundamentais para reduzir o impacto negativo dessas condições na vida da criança.

A identificação precoce do TDAH pode ser um fator determinante na prevenção do desenvolvimento do TOD. Quando há um acompanhamento adequado, com estratégias que favorecem a autorregulação emocional e comportamental, a probabilidade de evolução para comportamentos opositores pode ser reduzida. O suporte adequado da família, da escola e dos profissionais de saúde mental desempenha um papel essencial na promoção do desenvolvimento saudável dessas crianças.

Diante da alta correlação entre os transtornos, é essencial que pais, educadores e profissionais da saúde estejam atentos aos sinais precoces e atuem de maneira preventiva. O TDAH, quando não manejado corretamente, pode se tornar um fator de risco significativo para o desenvolvimento do TOD, impactando negativamente a vida da criança e seu ambiente. A intervenção precoce e o suporte contínuo são as principais estratégias para minimizar esse risco e promover uma trajetória de desenvolvimento mais positiva.

Tratamento para TOD: Abordagens Eficazes para o Transtorno Opositivo Desafiador

O tratamento do TOD requer uma abordagem multidisciplinar, envolvendo intervenções psicoterapêuticas, orientações familiares e, em alguns casos, medicação.

Psicoterapia

O Treinamento de Manejo Parental é um tipo de terapia cognitivo-comportamental que busca mudar o comportamento da criança ao alterar a maneira como os pais interagem com ela, e sua eficácia  foi comprovada (SERRA-PINHEIRO et al, 2004).

De acordo com uma matéria da Faculdade Médica de Ribeirão Preto (clique aqui para ler) a  orientação aos pais e responsáveis é essencial para estabelecer técnicas de disciplina consistentes e reforço positivo. O treinamento parental busca melhorar a dinâmica familiar e promover comportamentos adequados nas crianças.

Intervenções Psicossociais

Programas que focam no desenvolvimento de habilidades sociais e no manejo da raiva podem ser benéficos. Essas intervenções auxiliam na melhoria das interações sociais e na redução de comportamentos agressivos.

Tratamento Medicamentoso

De acordo com o “Protocolo de tratamento de transtornos desafiador-opositor e transtorno de conduta – risperidona” (esse documento é destinado aos profissionais da medicina, sendo fornecida para nós apenas a título de conhecimento), em situações onde os sintomas são graves ou há comorbidades, como Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), o uso de medicamentos pode ser considerado. Antipsicóticos e estabilizadores de humor têm sido utilizados para diminuir sintomas de impulsividade e agressividade.

Importância do Diagnóstico Precoce

Como já mencionado, identificar e intervir precocemente no TOD é crucial para minimizar impactos negativos no desenvolvimento social e acadêmico da criança. Profissionais como psicólogos, psiquiatras infantis e neurologistas desempenham um papel fundamental no diagnóstico e na elaboração de planos de tratamento individualizados.

Como lidar com o TOD em casa e na escola?

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O manejo do Transtorno de Oposição Desafiante exige paciência e estratégias específicas para evitar conflitos e incentivar a criança a desenvolver habilidades socioemocionais saudáveis.

Estratégias para pais:

  • Estabeleça regras claras e seja consistente na aplicação delas;
  • Use reforço positivo para encorajar bons comportamentos;

  • Evite discussões prolongadas, pois podem reforçar o comportamento opositor;

  • Mantenha a calma e adote uma postura firme, mas afetiva;

  • Busque apoio profissional.

Estratégias para professores:

  • Ofereça instruções diretas e objetivas para evitar mal-entendidos;

  • Utilize uma abordagem positiva, valorizando conquistas e avanços;

  • Evite confrontos diretos, pois podem intensificar a resistência da criança;

  • Implemente técnicas de autorregulação, como momentos de pausa ou respiração guiada;

  • Trabalhe em parceria com a família para alinhar estratégias de manejo.

Conclusão

O Transtorno Opositivo Desafiador é uma condição real que pode impactar significativamente o desenvolvimento da criança. No entanto, com compreensão, estratégias adequadas e apoio profissional, pais e professores podem ajudar essas crianças a superar desafios e construir um futuro mais equilibrado e saudável.

Se você percebe sinais do TOD em uma criança, não hesite em buscar orientação especializada. O diagnóstico correto e a intervenção precoce são fundamentais para garantir o bem-estar da criança e das pessoas ao seu redor.

Referências

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5-TR. 5. ed. (texto revisado). Porto Alegre: Artmed, 2023.

HOSPITAL ISRAELITA ALBERT EINSTEN. TOD: Entenda o que é o transtorno opositivo desafiador e como lidar com ele. Vida Saudável – Einstein, [s.d.] Disponível em: https://vidasaudavel.einstein.br/tod-entenda-o-que-e-o-transtorno-opositivo-desafiador-e-como-lidar-com-ele/. Acesso em: 07 marc. 2025

SAÚDE RIO PRETO. Risperidona no tratamento do Transtorno Opositivo Desafiador (TOD). Rio Preto, 2018. Disponível em: https://saude.riopreto.sp.gov.br/transparencia/arqu/arqufunc/2018/risperidona_tod.pdf. Acesso em: 07 mar. 2025.

SERRA-PINHEIRO, M. A. et all. Transtorno desafiador de oposição: uma revisão de correlatos neurobiológicos e ambientais, comorbidades, tratamento e prognóstico. Rev Bras Psiquiatr 2004;26(4):273 6. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbp/v26n4/a13v26n4.pdf. Acesso em: 07 mar. 2025.

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Qual é o tratamento para o Transtorno Opositivo Desafiador? Jornal da Faculdade Médica de Ribeirão Preto-USP, 2023. Disponível em: https://jornal.fmrp.usp.br/qual-e-o-tratamento-para-o-transtorno-opositivo-desafiador/. Acesso em: 07 mar. 2025.

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