Visão Simples da Leitura é um conceito que tem guiado educadores e pais no processo de ensinar crianças a ler. Como profissional da área da educação, sempre me encantei com esse desafio. Ver os olhos de uma criança brilharem ao reconhecer uma palavra ou compreender uma história é uma das maiores recompensas da minha jornada. No entanto, aprender a ler não acontece por simples acaso; é um processo complexo que demanda dedicação, prática e uma abordagem estruturada. Esse modelo destaca duas habilidades essenciais: a leitura precisa e fluente das palavras e a compreensão do significado dos textos.
Neste texto, vou explicar como essas habilidades funcionam, por que são importantes e como podemos ajudar nossas crianças a desenvolvê-las com base no National Center on
Improving Literacy1.
O que é a Visão Simples da Leitura?
A Visão Simples da Leitura é um modelo teórico desenvolvido por pesquisadores como Gough e Tunmer (1986), que simplifica o processo de leitura em duas grandes áreas: decodificação (ler palavras com precisão e fluência) e compreensão linguística (entender o significado do que foi lido). Essas duas habilidades se complementam e são indispensáveis para que a criança se torne uma leitora proficiente. Podemos observar isso na prática quando nossos alunos tentam ler um livro de histórias: eles precisam reconhecer as palavras na página e, ao mesmo tempo, compreender o que elas significam no contexto da narrativa.
Por que a leitura é um desafio?
Aprender a ler não é um processo natural, como aprender a falar. Segundo o National Reading Panel (2000), a leitura exige instrução sistemática e prática constante. As crianças não nascem sabendo como transformar letras em sons ou como extrair significado de uma frase. Por isso, o ensino da leitura deve ser intencional, especialmente no último ano da educação infantil e no primeiro ano escolarer, quando as bases da alfabetização são construídas.
Decodificação: A base para ler com precisão
A decodificação é a capacidade de transformar letras em sons e, depois, em palavras. É como montar um quebra-cabeça: cada letra ou grupo de letras tem um som, e a criança precisa juntar esses sons para formar uma palavra. Por exemplo, para ler a palavra “casa”, a criança deve:
- Reconhecer as letras visualmente: Identificar as letras “c”, “a”, “s” e “a”.
- Associar letras aos sons: Saber que “c” soa como /k/, “a” como /a/, e assim por diante.
- Juntar os sons: Combinar /c/, /a/, /s/ e /a/ para formar “casa”.
A importância da consciência fonológica

Um componente essencial da decodificação é a consciência fonológica, que é a habilidade de reconhecer e manipular os sons da fala. Crianças com boa consciência fonológica conseguem, por exemplo, identificar que “gato” e “pato” rimam ou dividir a palavra “sol” em seus sons individuais (/s/, /o/, /l/). Atividades como leitura em voz alta, brincar com rimas, cantar músicas ou dividir palavras em sílabas ajudam a desenvolver essa habilidade, que é essencial para a leitura inicial.
Fluência: Lendo com naturalidade
Depois que a criança aprende a decodificar, o próximo passo é ler com fluência. A fluência envolve ler com velocidade, precisão e entonação adequadas, como se estivesse contando uma história. Quando minha filha começou a ler, percebi que ele pausava muito entre as palavras, o que dificultava a compreensão. Com prática repetida, ela passou a reconhecer palavras conhecidas automaticamente, o que tornou a leitura mais fluida e agradável. A repetição de textos simples e a leitura em voz alta são estratégias eficazes para desenvolver a fluência, conforme indicado por estudos do National Reading Panel (2000).
Compreensão: Dando sentido às palavras
De nada adianta ler palavras com precisão se a criança não entende o que elas significam. A compreensão de texto depende de dois fatores principais: o vocabulário da criança e seu conhecimento prévio sobre o mundo.
A importância do vocabulário
Para entender uma frase como “O gatinho miou para a lua cheia”, a criança precisa saber o que significa “gatinho”, “miou” e “lua cheia”. Como professora, vejo que crianças com um vocabulário rico têm mais facilidade para compreender textos. Ler livros ilustrados e conversar sobre diferentes temas ajudam a expandir o vocabulário. Por exemplo, quando leio com minha filha ou alunos, sempre explico palavras novas e pergunto o que ele acha que elas significam no contexto.
Conhecimento prévio e conexões com o texto
O conhecimento prévio é um dos pilares da compreensão. Quando a criança já sabe, por exemplo, que os gatinhos miam para expressar emoções ou que a lua cheia é um fenômeno natural, ela entende melhor o que lê. Experiências do cotidiano, como passeios ao parque e conversas sobre animais, ampliam seu repertório e facilitam as conexões com o texto. Quanto maior o conhecimento de mundo, melhor tende a ser o desempenho em leitura.
Como apoiar a alfabetização em casa e na escola

O papel dos pais e educadores é fundamental para o sucesso na alfabetização. Aqui estão algumas estratégias práticas baseadas em evidências:
Atividades para desenvolver a decodificação
- Jogos de sons: brinque de identificar sons iniciais de palavras (“Qual é o som que começa o nome da mamãe?”).
- Leitura compartilhada: leia boas literaturas diariamente.
- Prática diária: reserve 10 a 15 minutos por dia para leitura guiada, corrigindo erros com paciência.
Atividades para melhorar a compreensão
- Converse sobre o texto: após a leitura, pergunte o que a criança entendeu ou como ela se sentiu com a história.
- Amplie o vocabulário: introduza uma palavra nova por dia e use-a em frases do cotidiano.
- Exponha a criança a diferentes temas: visitas a museus, documentários infantis ou livros sobre ciência e cultura ajudam a construir conhecimento prévio.
Desafios na alfabetização e como enfrentá-los
Nem todas as crianças aprendem a ler no mesmo ritmo. Algumas enfrentam dificuldades que tornam o processo mais desafiador. Como professora, já acompanhei alunos que liam ‘gato’ como ‘pato’ ou que tinham dificuldade em lembrar o significado de palavras simples. Nesses casos, a intervenção precoce é fundamental. Avaliar se a dificuldade está na decodificação ou na compreensão e, a partir disso, planejar atividades específicas pode fazer toda a diferença. Por exemplo, para uma criança com dificuldade em decodificar, jogos fonológicos tendem a ser mais eficazes do que insistir na leitura de textos longos.
Reflexão: A leitura como uma porta para o futuro
Ensinar uma criança a ler é abrir as portas para um mundo de possibilidades. A Visão Simples da Leitura nos mostra que, com prática e instrução adequada, todas as crianças podem desenvolver as habilidades necessárias para se tornarem leitoras proficientes. Devemos celebrar cada pequena conquista — desde o reconhecimento de uma nova palavra até o sorriso diante de uma história compreendida. Sabemos que o caminho exige paciência e persistência, mas os frutos são inestimáveis. Vamos, juntos, apoiar nossas crianças nessa jornada incrível da alfabetização, com amor, dedicação e estratégias baseadas em evidências.
Referências
- Baker, S.K., Fien, F., Nelson, N. J., Petscher, Y., Sayko, S., & Turtura, J. (2017). Aprendendo a ler: “A visão simples da leitura.” https://www.improvingliteracy.org/post/learning-to-read-the-simple-view-of-reading ↩︎

Sou formada em Psicologia, Psicopedagogia e Pedagogia, com uma paixão imensa por alfabetização infantil. Dedico minha carreira a ajudar crianças a desenvolverem suas habilidades de leitura e escrita, promovendo aprendizado com leveza e alegria. Acredito no poder da educação para transformar vidas e busco inspirar amor pelo conhecimento desde os primeiros passos.